Construtora pretende cortar mais despesas e pressionar governo do Rio por desfecho da renegociação da concessão no início do ano

Fonte por Nonato Viegas e Rodrigo Capelo para Revista Época

O consórcio que administra o Maracanã programou para janeiro de 2016 a demissão de todos os seus funcionários – devem permanecer somente um responsável, um financeiro e um advogado. A construtora Odebrecht, dona de 95% do consórcio, já tinha demitido 32 de 80 funcionários em outubro, conforme antecipou para a revista. Agora tomou a decisão de demitir os demais e congelar a operação para cortar gastos e pressionar o governo do Rio de Janeiro na renegociação do contrato de concessão que se arrasta há meses.

A incerteza sobre o futuro da concessão prejudica o negócio para a Odebrecht. O estádio encaminha para mais um prejuízo em 2015, após perdas de R$ 77 milhões em 2014 e R$ 48 milhões em 2013. A empreiteira, então, decidiu apostar no caos. Com as demissões, além de reduzir gastos, vai antecipar problemas para o início de 2016 e tentar, antes de entregar o Maracanã aos Jogos Olímpicos, a partir de maio, conseguir um desfecho na renegociação com o governo.

Nem a Odebrecht nem o governo revelam o que emperra a negociação. O fato admitido pelas duas partes é que, do lado da empreiteira, o cancelamento das demolições do estádio de atletismo Célio de Barros e do parque aquático Júlio Delamare, que dariam lugar a outros e mais rentáveis empreendimentos, comprometeu o negócio como ele tinha sido concebido no momento da concessão.

Do lado do poder público, apesar de haver correntes políticas internamente favoráveis ao rompimento, o governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) não quer assumir despesas e prejuízos do Maracanã. A queda do preço do petróleo derrubou a arrecadação carioca com royalties. O peemedebista sofreu por todo o ano de 2015 para cortar despesas e terminar o ano com rombo de “só” R$ 2,5 bilhões. No atual contexto de crise econômica e política no Brasil e no Rio, assumir o ônus do estádio repercutiria mal para o governador.

Só que a Odebrecht quer alguma compensação para não arcar sozinha com os prejuízos. No Nordeste, a empreiteira tem 100% da Arena Pernambuco e 50% da Fonte Nova. Nos dois estádios ela compartilha o risco do negócio com os governos de Pernambuco e Bahia, que entram, cada um à sua maneira, com dinheiro na operação em caso de déficit. No Rio, não há risco compartilhado. Ele é todo da Odebrecht, e o governo carioca não o quer. “O estado não quer ser sócio da concessionária. O estado quer se desonerar dessas obrigações. O lucro e o prejuízo são riscos do negócio, que devem ser refletidos pela concessionária. O estado não quer ser sócio da operação”, afirma Leonardo Espíndola, secretário de estado, à revista.

Espíndola espera que a renegociação com a Odebrecht termine após os Jogos de 2016 e não crê que a pressão, por meio da demissão em massa em janeiro, vá funcionar. “A gente tem uma excelente relação com o consórcio. Nossas discussões têm sido de alto nível. É possível que seja uma estratégia da concessionária dispensar algumas pessoas já que ela ficará parada praticamente durante todo o ano de 2016, mas não vejo isso como problema, nem nos assusta. A gente está negociando as últimas clausulas para ter a questão pacificada.”

 

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