Com dívida superior a R$23 milhões, médicos, funcionários e fornecedores estão sem seus pagamentos.

Fonte por Douglas Correa e Tâmara Freire para Jornal Agência Brasil

A Central Estadual de Transplantes, que funciona no Hospital São Francisco da Providência de Deus, na Tijuca, zona norte do Rio, referência em transplante de rins, decidiu esta semana, suspender o serviço, por falta de repasses de verba pelo governo do estado do Rio.

A unidade foi inaugurada em 2013, quando da visita do papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Desde quinta-feira (17), a admissão de novos pacientes ao programa está suspensa. O atendimento prossegue somente para os 81 pacientes já internados na unidade.

A decisão se deve ao atraso nos repasses dos atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), não feitos integralmente pelo governo do estado, para a Associação São Francisco de Assis na Providência de Deus, gestora do hospital, no valor de R$ 23,5 milhões. Desta forma, a associação está atrasando o pagamento de médicos, funcionários e fornecedores.

O diretor-geral do Hospital São Francisco da Providência de Deus, frei Paulo Batista disse que, por segurança, e pensando no pior, já decidiu pela transferência dos pacientes que se tratam no hospital para que eles possam ser cuidados da melhor forma possível.

De acordo com frei Paulo, a equipe não está conseguindo cumprir seus compromissos. “Nós não estamos conseguindo cumprir a nossa missão de cuidar deles [pacientes], porque estamos sem os insumos e nossos colaboradores hoje estão trabalhando por boa vontade, por puro comprometimento, porque estão sem receber. A gente não tem condição de fazer cirurgia, e mesmo que tivéssemos, não teríamos medicamentos para cuidar desses pacientes. Nossos colaboradores podem deixar de vir, porque estão sem receber há algum tempo”.

Já pacientes do hospital, como Alfredo Duarte, com insuficiência renal desde 1990, passou pelo segundo transplante de rim este ano, e vai necessitar de outro hospital para continuar o tratamento. Como é recém-transplantado, Alfredo precisa ir semanalmente ao hospital para colher sangue e verificar como estão as taxas. Ele está apreensivo, porque se houver alteração nos exames, terá que tomar medicamentos. “Se paralisar esse serviço, a gente corre o risco de perder o enxerto”, advertiu.

O presidente da Associação dos Renais Transplantados, Gilson Nascimento, explicou que o serviço oferecido na Central Estadual de Transplantes não está disponível em qualquer outra unidade de saúde do Rio de Janeiro. Um dos itens que inviabilizam o procedimento é o tempo que o paciente demora para fazer os exames na fase pré-transplante. “O hospital estava funcionando maravilhosamente bem e, hoje, os outros hospitais estão sucateados em relação aos transplantes”, disse.

Só de janeiro a novembro deste ano, a Unidade de Transplante Renal do Hospital São Francisco na Providência de Deus fez 10.658 consultas e 227 transplantes. Na Unidade de Transplante Hepático foram feitas 5.108 consultas e 89 transplantes de fígado.

A Secretaria de Estado de Saúde informou que, com a interrupção temporária dos transplantes no Centro Estadual de Transplantes, os pacientes cadastrados na unidade não ficarão desassistidos, e seguem com a inscrição ativa na fila. No caso de haver um órgão compatível com pacientes, o Programa Estadual de Transplantes (PET) contata os médicos que os atendem regularmente, e que já se comprometeram a fazer a avaliação, para encaminhá-los para cirurgia. A partir daí, o programa vai articular com os centros transplantadores em atividade no estado, para que possam receber o paciente. A realização da cirurgia em outra unidade, entretanto, é facultativa a cada paciente.

A secretaria informou ainda que não tem intenção de fechar o serviço, e vem reunindo esforços para cumprir com suas responsabilidades financeiras. Isso inclui pagamento de fornecedores e organizações sociais de saúde e, consequentemente, seus serviços terceirizados. O cenário só deverá se normalizar, no entanto, mediante repasses para o Fundo Estadual de Saúde.

 

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