Grupos da região organizam festas gratuitas para manter o ritmo em alta

Fonte por Maurício Peixoto para Jornal O Globo

Passinhos coreografados, luzes que lembram as discotecas dos anos 1970 e 1980, roupas e figurinos estilosos, energia envolvente. O baile charme não é só exclusividade do Viaduto de Madureira. Na Grande Tijuca, charmeiros nostálgicos e amantes da black music se uniram formando cinco grupos que organizam esse tipo de festa e dão nome a elas: Salgueiro Black Music, do Morro do Salgueiro, na Tijuca; Movimento Cultural Black Soul Charme, de Vila Isabel; Esquina do Charme, do Estácio; Só Relíquias, do Catumbi; e Charme na Toka, do Rio Comprido, que organiza ainda o Charme do Posto, no Catumbi.

Todos surgiram de um simples encontro de amigos que sentiam falta do ritmo. Com o tempo, as festas acabaram se tornando grandes eventos. O Salgueiro Black Music é um exemplo de como pessoas dos quatro cantos do Rio frequentam esses bailes.

— Começou como quem não quer nada, em um bate-papo entre amigos que curtiam black music, e foi crescendo. Hoje em dia vem gente de tudo quanto é lugar: Jacarepaguá, Caxias, São Gonçalo, Maré… Não dá menos de 200 pessoas por evento — diz Denise Santos, uma das idealizadoras do Salgueiro Black Music.

Rose Magalhães, moradora de São Gonçalo, é uma das frequentadoras.

— Tenho amigos na comunidade. Eles me convidaram e estou sempre vindo — diz ela.

Nos moldes do famoso baile de Madureira, o grupo Só Relíquias, formado há um ano por moradores do Catumbi, organiza o Baile do Viaduto da Avenida Trinta e Um de Março.

— A galera está reconhecendo que não é só em Madureira que rola uma cena black music “de responsa”. O nosso baile no viaduto tem o seu charme. Está bombando — diz DJ Luiz Alves, um dos fundadores do Só Relíquias, fazendo um trocadilho.

O que chama a atenção no movimento charmeiro da região é a união dos grupos. Há entre eles um intercâmbio de DJs e um espécie de acordo para que os eventos não ocorram no mesmo dia.

— Somos muito unidos. Cada evento ocorre em um dia específico do mês para não acontecerem simultaneamente. Fazemos esse entrosamento e sempre com intercâmbio de DJs — comenta DJ Dario, um dos residentes do Baile do Viaduto da Avenida Trinta e Um de Março.

Ele acredita que o movimento na região está crescendo por causa da ajuda mútua.

— Não há competição e ninguém quer derrubar o outro. Todos querem se unir em prol do movimento charme — diz DJ Dario.

Ele afirma que o clima nas festas é muito familiar:

— Não só aqui, mas em todos os bailes da região tenho percebido, além do pessoal mais velho, uma grande quantidade de jovens e crianças. São filhos, sobrinhos e até netos dessa galera da antiga, mostrando que música boa e de qualidade não tem idade. Os bailes são a maior tranquilidade. Sem confusão, só paz e amor — comenta o DJ.

A maioria das festas é realizada na rua e é gratuita. A exceção é a do Baile da Toka, no restaurante Toka 34, no Rio Comprido, onde não é exigido que o cliente consuma para poder dançar.

Grupos oferecem curso de DJ e de dança

Muito mais do que um ritmo musical ou estilo, e sim um movimento cultural e de resistência. É assim que os componentes dos grupos charmeiros da região veem a black music. Com a ideia de que que o charme não pode parar, eles criaram cursos de DJ e de dança voltados principalmente para crianças e jovens.

O Salgueiro Black Music dá aulas de DJ para crianças da comunidade a partir de 10 anos. As classes são às segundas e quartas, às 19h, na biblioteca comunitária com o DJ Leandro Rodrigues.

Às terças e quintas, Vânia Ibraim, que mora no Complexo da Maré, dá aula de dança no mesmo local. Os dois cursos são oferecidos há cerca de quatro meses.

— Curto black music desde os 10 anos. É uma herança de família. Além de cultura, acho que é um estilo de vida. E passar isso para os mais novos é algo muito gratificantes. Creio que estou dando minha contribuição para não deixar o charme morrer. É importante lembrar que eles são abertos não só aos moradores do Salgueiro, mas a todos — diz Vânia.

Em Vila Isabel, o Movimento Cultural Black Soul Charme, que tem como berço o Morro dos Macacos, organiza o baile charme há nove anos na Praça Barão de Drummond. E há quatro, realiza curso para DJ. Há quatro meses, ele é organizado junto com a ONG Dom Pixote, que fica na comunidade. Atualmente tem 12 alunos.

— Desde que começamos a parceria formamos 18 alunos. Em quatro anos, já perdi a conta. Organizamos a festa, mas também atuamos muito na parte social. Por isso, digo que somos mais do que um grupo que curte charme e black music. Somos, na verdade, um movimento cultural — orgulha-se DJ Kitinho.

Confira os dias e horários dos bailes:

Salgueiro Black Music

Todo primeiro domingo do mês, na quadra do Bloco Raízes da Tijuca (Rua Potengi s/nº, Morro do Salgueiro, Tijuca). Das 14h às 23h.

Movimento Cultural Black Soul Charme

Todos os domingos na Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel. Das 16h às 22h.

Só Relíquias

Viaduto Trinta e Um de Março, no Catumbi, em frente ao cemitério. É realizado um sábado por mês, das 20h à 2h.

Charme na Toka

Restaurante Toka 34 (Rua Estrela 34, Rio Comprido). Sextas alternadas, das 20h à 1h.

Charme no Posto

Rua Itapiru 657, Catumbi. Sábados alternados, das 17h à 1h.

Esquina do Charme

Praça Compositor Ismael Silva, no Estácio. Quinzenalmente, aos sábados, das 15h às 22h.

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