Espaço público. A Praça Saenz Peña vista do alto: projetos têm em comum o tom visionário – Pedro Teixeira / Agência O Globo

Alunos e mestres da UFRJ apresentam projetos para o local

Por O Globo

Aos 107 anos, a Praça Saenz Peña oferece pouco a se comemorar. Desordem pública, insegurança e questões de infraestrutura e operacionais tiram o glamour do local, que nem de longe lembra os seus tempos áureos.

Diante desse quadro, arquitetos e urbanistas foram procurados pelo Jornal para apresentar soluções e projetos que viabilizassem um futuro melhor para a praça, o mais tradicional centro de lazer e comércio da região.

Jaime Miranda, presidente da ACIT e consultor editorial NaTijuca, e os urbanistas da UFRJ Ivete Farah, Victor Andrade e Naylor Vilas Boas – Reprodução

Sem desprezar o potencial e a importância da Praça Saenz Peña, Ivete Farah, Victor Andrade e Naylor Vilas Boas, professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (FAU-Ufrj), desenvolveram com seus alunos do segundo semestre de 2014 ao primeiro de 2016, projetos urbanísticos e arquitetônicos que tinham a Tijuca como tema, sendo a Praça Saenz Peña o epicentro.

Os projetos, que nasceram da iniciativa de revitalização da Praça Saenz Peña, idealizada pela Associação Comercial e Industrial da Tijuca (ACIT), têm tons livres e futuristas, deixando-se levar pela imaginação e as propostas dos alunos, sem que houvesse preocupação com a viabilidade financeira ou com as legislações em vigor.

Projeto FABLAB + Camelódromo interno – Reprodução

Um dos projetos, o “Tijuca em rede”, de Amanda Oliveira, Ludmilla Duarte, Luísa Dias, Patrícia Knop e Rodrigo Prada, propõe intervenções paisagísticas e arquitetônicas ao longo da Avenida Gabriela Prado Maia Ribeiro (nos fundos do Shopping 45, que começa na General Roca e vai até a Conde de Bonfim, na altura da UPA).

O projeto mostra um corredor verde na rua, com circulação exclusiva de pedestres, aliado ao plantio de novas árvores, à limpeza do Rio Trapicheiros e à criação de um deque e de quiosques de todo tipo, formando, assim, um espaço de convivência e permanência que reconhece a intensidade do fluxo na região.

Prédio cultural com placas fotovoltaicas na área onde atualmente funciona a UPA – Reprodução

Um prédio cultural com placas fotovoltaicas ocuparia a área onde atualmente funciona a UPA, abrigando biblioteca, cinema, auditório, exposições e escolas de dança com alojamento, além da releitura do Mercado Popular da Tijuca no térreo.

Na praça, a tradicional feira de artesanato seria mantida, sendo realocada em novas estruturas dobráveis, localizadas nas extremidades. Vaporizadores de água ajudariam a refrescar o local, que ficaria sem o chafariz, exatamente para dar mais espaço para eventos culturais e para a circulação de pedestres.

Foram desenhadas também ciclovias ao longo da Conde de Bonfim e no entorno da praça.

Desenvolvimento de projeto urbanístico na Praça Saens Peña – Reprodução

— Todos os projetos são futuristas, têm um olhar visionário. Como seria a praça em 2100? Qual é o futuro dela? Saímos um pouco da mediocridade, daquela coisa de botar um banquinho aqui e uma arvorezinha ali. A arquitetura tem sido muito utilizada no mundo para se transformar e pensar o futuro das áreas que se tornaram obsoletas e que perderam a importância, como é o caso da Saenz Peña. Tirando aquele olhar saudosista — diz o professor Victor Andrade.

Já o especialista em planejamento urbano Pedro Paulo Bastos acredita que uma solução para resgatar a vitalidade da praça seria uma política de diversificação do mix de negócios do entorno.

— A praça atualmente é formada por bancos, farmácias e consultórios médicos. Em alguns locais protegidos pela Apac, como Ipanema e Leblon, a prefeitura tentou implementar política parecida em 2012, condicionando o licenciamento de alvarás nessas regiões com o objetivo de proteger a diversidade comercial desses bairros. A Saenz Peña tem um potencial de consumo gigante. Um comércio diverso é capaz de atrair maior circulação de pessoas de diferentes idades e poderes aquisitivos, dia e noite, e ainda fortalecer a associação comercial e cívica em prol de um maior cuidado com o espaço público — acredita Bastos.

Estruturas Vaporizadoras de água – Reprodução

Arquiteto formado na UFRJ, César Jordão, que fez uma tese de mestrado com foco no desenvolvimento urbano da Grande Tijuca, acredita que para a transformação da praça é preciso ir além de projetos arquitetônicos.

— Ela sempre foi um local de encontro, que acabou se esvaziando com a violência urbana, gerada pela desigualdade social, e por se tornar um local de passagem, principalmente com a construção do metrô. Mais do que isso, a praça está esvaziada por conta da mentalidade das pessoas. Quantas estão dispostas a vir aqui e mudar o cenário, utilizando-o para encontros, como era antigamente? — questiona.

Jaime Miranda, Presidente da Associação Comercial e um dos idealizadores do Projeto de Revitalização da Praça Saenz Peña reforça a importância da iniciativa:

— Quando falamos em revitalizar a Praça Saenz Peña, não estamos nos limitando à Praça. A Revitalização engloba todo o seu entorno, favorecendo toda a população e impulsionando o comércio local, pois facilita o acesso do público consumidor aos estabelecimentos comerciais, promove a Segurança e ainda fortalece as ações culturais no bairro.