Testemunhas das mudanças que os bairros sofreram com o tempo, elas estão pichadas, sujas, quebradas e cobertas por vegetação

Fonte por Maurício Peixoto para Jornal O Globo

Remanescentes de extintas indústrias da região, chaminés de tijolos aparentes permanecem, imponentes, como únicas heranças de eras passadas. O estado de conservação não faz jus ao seu valor histórico. Malconservadas, estão pichadas, sujas, quebradas e cobertas por vegetação. Entre as estruturas do gênero que merecem destaque por seu valor arquitetônico estão as das extintas Cia. Hanseática de Cerveja, na Tijuca; das fábricas de tecido América Fabril e Confiança, em Vila Isabel; e da Usina Brasil de Açúcar, no Catumbi.

A chaminé da antiga América Fabril, de tecidos, na Rua Vega, ao lado de onde hoje se está o condomínio “Tijolinho”, que ocupa um quarteirão inteiro em Vila Isabel, permanece com a torre do relógio. Ligeiramente pendente, está pichada e com tijolos quebrados na parte de cima. Segundo José Antônio Pereira, morador há 30 anos do local, tijolos costumam pender da torre.

— Ainda bem que nunca acertou ninguém. Sempre guardo distância ao passar. Há cerca de quatro anos, vieram aqui, não me lembro qual órgão público. Fizeram uma intervenção e acertaram um pouco a chaminé, mas ela continua torta e com tijolos quebrados — diz.

No Catumbi, em frente à Rua Eleone de Almeida, a chaminé da extinta Usina Brasil de Açúcar, fundada em 1885 e extinta em 1967, é uma das raras remanescentes da parte antiga do bairro, que sofreu, entre 1963 e 1977, uma grande descaracterização com as desapropriações para a construção do Túnel Santa Bárbara e do Viaduto 31 de Março. Há tijolos quebrados na base e pichações.

João Baptista, professor de Geografia da Uerj, de 58 anos, passou a infância no bairro e se lembra com carinho da fábrica. Ele pede que os órgãos públicos deem mais atenção ao que chamou de “símbolo do bairro”:

— A chaminé é um testemunho geográfico do antigo bairro, um símbolo. A pichação é algo desolador, que fazem até em igrejas. O importante é que ela permanece, mas deveria ter mais atenção.

Estruturas na mira dos órgãos

Outras duas chaminés da região que pertencem a conjuntos arquitetônicos de relevância histórica se encontram dentro de terrenos de supermercados: no Extra da Rua Maxwell (antiga Confiança) e no Extra da esquina da Rua José Higino com a Avenida Maracanã (antiga Companhia Hanseática de Cerveja), ambos patrimônios tombados. A primeira ter sinais de pichação e a segunda tem vegetação crescente no topo. Apesar disso, ambas estão em bom estado de conservação.

O Extra informa que realiza manutenção periódica e que retirará a vegetação e limpará a pichação. Em relação às chaminés encontradas em espaço público, a Secretaria de Conservação e Meio Ambiente afirma que apenas a do Catumbi está na lista de monumentos do órgão, e que a de Vila Isabel não é de sua responsabilidade. Disse também que vai programar uma vistoria para que os serviços de limpeza do monumento possam entrar na programação, mas não deu qualquer tipo de prazo.

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