Edições raras e preços mais em contas são os principais atrativos do comércio de livros usados e seminovos

Fonte: Por Thayanne Porto sob supervisão de Marta Paes para Jornal O Globo

Leitores já têm e-books à disposição, mas os sebos não estão entregues às traças. Mesmo na era digital, lojas destinadas a livros usados continuam atraindo interesse do público, oferecendo títulos já esgotados nas livrarias e bons descontos.

Os preços são um dos principais atrativos dos sebos. Mas, para algumas pessoas, não é somente o dinheiro que conta na hora de optar pela compra de livros usados.

— É o ambiente, as relíquias que posso encontrar. Achei a primeira edição da biografia de Charlie Chaplin que até hoje é o meu xodó — conta a estudante Renata Bustamante.

Ela pagou R$ 15 pelo exemplar, no Livreiro da Saens Peña, sebo que funciona há 28 anos em uma espécie de banca, na Rua das Flores. No local, os livros podem ser comprados a qualquer hora. O funcionamento 24 horas por dia tem uma justificativa bastante simples.

— Às vezes, a pessoa está voltando tarde do trabalho, cansada; para na banca, vê um livro e isso acaba aliviando um pouco o estresse — diz a dona do Livreiro, Janine Santos Nunes.

A ideia de ter um sebo foi do marido dela, Júlio Domingues e, há quase três décadas, as prateleiras lotadas de livros fazem parte do cenário da Saens Peña.

Uma das livrarias mais antigas da Tijuca também abriga um sebo. Ao descer alguns degraus da Eldorado, na Rua Conde de Bonfim, o cliente chega à Caverna do Saber, assim chamada por estar no subsolo. Dono do sebo, Isac Lerbak aproveitou o espaço ocioso da livraria para levar ao público obras fora dos catálogos das editoras.

— Os livros foram feitos para circular, para serem lidos por muitas pessoas. O sebo serve para isso — afirma o livreiro.

A troca de informação é o que movimenta esse tipo de estabelecimento. Os próprios clientes vão até as lojas querendo vender ou trocar os títulos que possuem. Por isso, a variedade de obras costuma ser bem maior do que nas livrarias, que dependem dos catálogos das editoras para a renovação dos acervos.

Para Lerbak, o sebo também tem a vantagem de entregar ao cliente livros seminovos por preços bem mais em conta. Na estante da Caverna do Saber, “Mulheres: retratos de respeito, amor-próprio, direitos e dignidade”, de Carol Rossetti, lançado em agosto deste ano, é vendido por R$ 20, metade do preço praticado em livrarias.

— Uma revolução não se faz com armas, e sim com livros — filosofa Lerbak, para quem os valores mais em conta democratizam a leitura e o conhecimento.

Na Praça São Francisco Xavier, o Prosa da Praça é outro exemplo de sebo que faz sucesso no bairro. O comércio, que passou de pai para filha, chegou a ficar oito anos fechado, reabrindo em 2013 para encontrar um novo público-alvo.

— Antes eram mais intelectuais, procurando livros de filosofia. Hoje, a maioria dos clientes chega perguntando sobre romances de grande sucesso, como “Cinquenta tons de cinza” — diz Ana Carolina Figueira, dona da banca.

Mas há livros para todos os gostos: de histórias em quadrinhos a clássicos da literatura. E as razões dos clientes, independentemente do gosto literário, são praticamente as mesmas, bem resumidas pela aposentada Áurea Pacheco:

— É muito difícil encontrar livros antigos, por isso costumo frequentar os sebos. Acho títulos difíceis a preços acessíveis.

 

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