Feiras na cidade do Rio de Janeiro têm baixo estoque de produtos – Márcia Foletto / Agência O Globo

Mercados, escolas, aeroportos entre outros têm seu funcionamento alterado por conta da greve

Por O Globo

Chegando ao seu oitavo dia, a greve dos caminhoneiros já afeta serviços pelo país. Além da falta de abastecimento de gasolina em postos em diversos municípios, o bloqueio das rodovias gerou impacto no funcionamento de escolas, universidades, aeroportos, mercados, bancos e até do poder judiciário.

Alguns deles não estão abertos, enquanto outros operam com capacidade reduzida devido a falta de mantimentos ou a dificuldade de locomoção de seus funcionários pelas cidades.

Postos de gasolina

Em São Paulo, frentista coloca anúncio de falta de gasolina e etanol por conta da greve dos caminhoneiros – Edilson Dantas / Agência O Globo

No município do Rio de Janeiro, os postos continuam secos no oitavo dia de greve, mas a informação do sindicato é que cada um dos 830 postos receberá cinco mil litros. Um posto na Avenida Brasil perto do Trevo das Margaridas já recebeu combustível, mas a prioridade para o abastecimento será dos veículos de militares.

Os caminhões-tanque que saem das distribuidoras são escoltados por forças de segurança, e têm como objetivo abastecer serviços essenciais como saúde, segurança e transporte público.

Em São Paulo, a situação é parecida com a do Rio. Na madrugada deste domingo, a prefeitura paulistana colocou a Guarda Civil Municipal (GCM) para escoltar caminhões-tanque até postos na cidade.  Os estabelecimentos, porém, estão autorizados a abastecer apenas veículos usados em serviços essenciais da prefeitura, como ambulâncias, viaturas policiais e outros.

Além disso, a Polícia Militar de São Paulo informou que fará, a partir deste domingo, a escolta de caminhões-tanque entre as refinarias da Petrobras e os postos de combustível de São Paulo. Até então, os policiais atuavam apenas na segurança no transporte de combustível para veículos oficiais, como viaturas e ambulâncias.

Aeroportos

O abastecimento de aeroportos, como o Santos Dumont no Rio, foi afetado – Marcelo Fonseca / Agência O Globo

A crise no abastecimento de combustíveis afetou o funcionamento de aeroportos, que não conseguem abastecer seus aviões e tiveram de cancelar e atrasar voos.

Dos 54 aeroportos do país sob a administração da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), oito estão sem querosene de aviação nesta manhã de segunda-feira. Os estoques estão zerados nos terminais de São José dos Campos (SP), Uberlândia (MG), Ilhéus (BA), Campina Grande (PB), Juazeiro do Norte (CE), Aracaju (SE), João Pessoa (PB) e Teresina (PI).

“Os aeroportos estão abertos e têm condições de receber pousos e decolagens. Nos terminais em que o abastecimento está indisponível no momento, as aeronaves que chegarem só poderão decolar se tiverem combustível suficiente para a próxima etapa do voo”, informou a estatal.

O aeroporto de Brasília, terceiro maior do país e controlado pela iniciativa privada, está com níveis “alarmantes” de combustível. Segundo a Inframérica, os reservatórios do aeroporto estão com a apenas 5% da capacidade, mesmo com a chegada de 10 caminhões de combustível neste sábado.

Os aeroportos de Recife (PE), Vitória (ES), Petrolina (PE) e Goiânia (GO) estão entre os que receberam combustível no fim de semana. Já os terminais dos aeroportos do Galeão e Santos Dumont, no Rio, e Congonhas e Guarulhos, em São Paulo, foram abastecidos normalmente.

Escolas e Universidades

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) também decidiu suspender as aulas – Fernando Frazão/Agência Brasil

As aulas e atividades de diversas universidades e escolas foram suspensas pelo Brasil por conta da greve dos caminhoneiros. A dificuldade dos alunos de chegarem aos locais e do transporte de mantimentos básicos fez com que milhares de alunos pelo país ficassem em casa nos últimos dias.

No caso da capital nacional, por exemplo, nenhuma escola na rede pública se ensino terá aulas na próxima segunda-feira, o que já havia ocorrido na última sexta-feira, o quinto dia de greve. As creches de Brasília, porém, manterão suas aulas pois teriam conseguido receber seus mantimentos.

Escolas e universidades anunciaram a suspensão de suas aulas no Rio de Janeiro para esta segunda-feira. O Colégio Pedro II, um dos maiores da cidade, emitiu comunicado de que não haveria atividades na segunda-feira. Na sexta-feira, as escolas de Barra Mansa, Volta Redonda, Porto Real, Itatiaia, Paraíba do Sul, Miguel Pereira, Paty do Alferes, Valença e Mendes não funcionaram.

A Prefeitura decidiu dar ponto facultativo para as escolas e creches da rede. A medida foi tomada por causa da dificuldade do transporte. O encontro teve a presença do prefeito Marcelo Crivella com órgãos como a Casa Civil, a Secretaria municipal de Ordem Pública, a Secretaria municipal de Transportes, a Secretaria municipal de Saúde e a Secretaria municipal de Educação.

O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Município do Rio de Janeiro, José Carlos Portugal, disse em nota que cada escola particular escolherá se funcionará ou não na próxima segunda-feira, levando em conta a falta de combustível de postos e a dificuldade de locomoção de alunos e professores.

A Rede Pensi, que atende cerca de 11 mil alunos no estado do Rio, anunciou a suspensão de suas aulas na segunda-feira. Os colégios Andrews, Santo Inácio, São Vicente e Sion, na Zona Sul do Rio, e o Cruzeiro, no Centro, confirmaram que terão aulas.

No caso do ensino superior, as universidades UFF, UFRJ, UERJ, Unirio, Rural também disseram que não irão operar no primeiro dia da semana.

Em Pernambuco, as aulas já foram suspensas desde quarta-feira na Universidade Federal de Pernambuco, na Universidade de Pernambuco e na Universidade Federal Rural de Pernambuco. O fechamento se manterá na segunda-feira, que foi adotado também pela Universidade Católica de Pernambuco e o Instituto Federal de Pernambuco.

É o que acontece também no Sul do país. Entre sexta e sábado, dezenas de instituições de ensino superior suspenderam suas aulas nos estados da região. Entre elas estão a UFRGS, PUCRS, Unipampa, UERGS, Unics, UFPR, Universidade Tecnloógica do Paraná, UEL, UEM, UFSC e PUCPR.

Na cidade de São Paulo, as aulas estão mantidas. Porém, no interior do estado, a Unicamp anunciou a suspensão das atividades de aula.

Transporte Público

O BRT foi um dos serviços de transporte mais afetados pela crise de abastecimento – Pablo Jacob / Agência O Globo

O sistema BRT circula com 125 ônibus desde 4h desta segunda-feira, segundo a concessionária. O número de coletivos corresponde a 22% do total da frota. Com a redução no número de veículos, devido à greve dos caminhoneiros, 40 estações do sistema, de um total de 135, continuam sem operar nesta segunda-feira. Nas linhas municipais do Rio, apenas 34% dos coletivos circulam hoje. No domingo, apenas 13% da frota de ônibus estava circulando pela capital. No sábado, o número era de 23%.

A CCR Barcas adotou medidas de contingência para minimizar o impacto no transporte aquaviário. Na linha Arariboia, os intervalos entre as viagens no período do rush, que normalmente são de 10 minutos, chegam a 20 minutos nesta segunda-feira. Nas linhas Charitas, Paquetá e Cocotá, algumas viagens desta segunda-feira serão canceladas.

Já os trens e o MetrôRio funcionam normalmente nesta segunda-feira. Segundo a SuperVia, serão 2.103.600 lugares, em 942 viagens. A concessionária continua monitorando o fluxo de passageiros e poderá realizar viagens extras, caso seja necessário.

Justiça

O Tribunal de Justiça do Rio ficará paralisado nesta segunda-feira – Márcio Alves / Agência O Globo

Tribunais também suspenderam suas atividades pelo Brasil ao longo da última semana por conta da dificuldade de locomoção gerada pela greve.

O presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), desembargador Milton Fernandes de Souza, suspendeu as atividades e os prazos processuais dos processos físicos e eletrônicos em todo o Estado do Rio de Janeiro nesta segunda-feira. A medida já vem sido tomada desde a última quinta-feira. Um seminário organizado pela Defensoria Pública, que contaria com a presença do ator Danny Glover, embaixador da ONU para Direitos Humanos e Questões Raciais, foi adiado.

Também funcionam em esquema de plantão o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e a Defensoria Pública.

Em outros estados o serviço também foi impactado. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o Tribunal de Justiça da Paraíba (TJ-PB), Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região e o Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJ-MT) tiveram seu funcionamento alterado ou suas atividades suspensas.

Hospitais

O Hospital Universitário Pedro Ernesto, ligado à Uerj, precisou suspender novas internações eletivas. – Antonio Scorza / Agência O Globo

Apesar dos bloqueios das rodovias, há a manutenção dos serviços essenciais nos hospitais e postos de saúde do Brasil. O que não quer dizer, também, que parte de suas atividades não foram afetadas.

Em Brasília, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) declarou a suspensão de todas as cirurgias eletivas nos Hospitais e Postos de Saúde. A ideia é concentrar atendimento nos setores de emergência. Além disso, o pesebista disse que os hospitais do Distrito Federal ainda têm oxigênio suficiente para o funcionamento de uma semana.

Na última sexta-feira, a Confederação Nacional de Saúde (CNS) alertou para os problemas no abastecimento de insumos essenciais nos hospitais por causa da greve dos caminhoneiros. De acordo com o presidente da CNS, Tércio Egon Paulo Kasten, a situação era mais críticas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Nas clínicas de hemodiálise do Rio, o tempo de tratamento dos pacientes foi reduzido de quatro para três horas, e algumas unidades passaram a reaproveitar material para não deixar pacientes sem tratamento.

O Hospital Geral de Nova Iguaçu (Posse) informou que suspendeu as cirurgias eletivas para manter o atendimento na emergência e dos pacientes internado na unidade. Até o momento, porém, não havia falta de insumos ou medicamentos mas a situação pode agravar a partir deste terça-feira caso a situação não seja normalizada.

Outros hospitais particulares do Rio de Janeiro estão suspendendo cirurgias eletivas já agendadas para priorizar o atendimento de urgência. A Casa de Saúde São José, no Rio, anunciou que as cirurgias eletivas marcadas para a partir da próxima segunda-feira estão suspensas. O Hospital Samaritano, por sua vez, não irá realizar os procedimentos entre este sábado e segunda. O Hospital Unimed-Rio estende o cancelamento entre este sábado e a terça-feira.

Em São Paulo, a Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP) informou que o recolhimento de lixo hospitalar também está comprometido, e as unidades poderiam ficar sem o abastecimento de oxigênio, materiais, medicamentos e insumos em geral, como suprimentos para diálises.

Mercados e Feiras

O Supermercado Guanabara, na Tijuca, tem falta de produtos – Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Não apenas a entrega de combustível tem sido afetada por conta da greve dos caminhoneiros. É o caso também dos alimentos, o que causou escassez em mercados, feiras e distribuidoras por todo o país e com diversos alimentos.

Supermercados do Rio já tinham, ao longo da semana, prateleiras de hortifrutigranjeiros vazias por causa do atraso na entrega de mercadorias provocado pela greve dos caminhoneiros, que bloqueia estradas em todo o país. Na Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ), em Irajá, Zona Norte do Rio, apenas 50 dos 500 caminhões que deveriam fazer entregas na última quinta-feira conseguiram chegar ao mercadão.

Mercados e feiras em todas as outras regiões da cidade tiveram seu abastecimento alterado e limitado por conta da greve. Clientes nas Zona Sul, Oeste e Norte se viram com falta de diversos produtos nas prateleiras. Quem foi à tradicional feira da Rua Campos Salles, da Tijuca, neste domingo, viu metade das barracas fechadas e o restante com falta de produtos.

No Rio, o movimento do comércio caiu mais de 80% desde o início da greve dos caminhoneiros, na última terça-feira, segundo a Associação do Comércio do Rio de Janeiro (ACRJ). Apesar da paralisação, diz Aldo de Moura Gonçalves, diretor da ACRJ, a maior parte dos lojista não sofre com desabastecimento.

Em São Paulo, também na quinta-feira, clientes do Carrefour informam, por meio das redes sociais, que o supermercado estava limitando a compra de produtos. Cartazes na porta das lojas informam que “devido à greve dos caminhoneiros e para que todos os clientes consigam aproveitar nossos preços e ofertas estamos limitando em cinco unidades de cada item por compra”.