Medida que busca preservar as características da área será votada pela Câmara

Fonte por Stéfano Salles para Jornal O Globo

Referência na Tijuca quando o assunto é amor ou saudade, e muito procurada em datas comemorativas, a Rua das Flores é um dos endereços mais charmosos do bairro. A pequena via de pedestres, que tem sete quiosques centrais que formam um grande canteiro, ganhou a configuração atual em 1993 e está perto de se tornar patrimônio cultural do Rio. A iniciativa é do vereador César Maia (DEM), que busca proteger a tradição da especulação imobiliária e, assim, preservar o tradicional comércio popular de arranjos florais.

O projeto de tombamento foi aprovado em primeiro turno na Câmara dos Vereadores no dia 27 de novembro de 2015. A segunda votação está prevista para acontecer a partir de fevereiro, quando acaba o recesso parlamentar.

Dona do quiosque número um da Rua das Flores, a vendedora Cineida Lopes lembra como era a via antes da reurbanização que permitiu que os lojistas se instalassem no local. Sem saudades dos problemas enfrentados na época, apoia a iniciativa de César Maia.

— Ela deve aumentar a atenção e o cuidado com a Rua das Flores, o único ponto da Tijuca que funciona 24 horas. Antes das obras, isto aqui era uma via muito perigosa, com moradores de rua, assaltantes e uma vala negra. Hoje há uma igreja na esquina. Na época, funcionava ali o Cinema Carioca, que não podia abrir suas entradas laterais por causa do risco de assalto — lembra.

César Maia era prefeito do Rio quando a área foi revitalizada. Ele defende que a ação do município no local foi a primeira experiência bem-sucedida de requalificação de um espaço e de seu entorno na cidade.

— Em 1993, a Rua das Flores era como uma cracolândia piorada. Fizemos uma operação de acolhimento dos moradores de rua e uma transformação, com urbanização e embelezamento. Depois disto, os quiosques foram autorizados e se instalar e fizeram um contraponto à situação anterior. O projeto atual busca preservar a qualidade de vida alcançada pelos moradores — explica o parlamentar.

Marido de Cineida, Humberto Lopes administra o negócio junto com a mulher. Ele se lembra da recepção dos moradores aos lojistas na chegada.

— Ficávamos em variados pontos do Rio e depois nos concentramos aqui. O pároco da Igreja de Santo Afonso abençoou a rua e pediu para que os fiéis nos ajudassem, comprando nossas flores. Estávamos às vésperas do Dia das Mães e vendemos muito. Só restou a estrutura dos quiosques, de metal e madeira. Flor e planta, não havia mais — conta Lopes.

Dona de outro ponto, Patrícia Oliveira conta que os moradores, ainda traumatizados com os episódios de violência que aconteceram no trecho, ficaram felizes com a mudança.

— Muita gente passava pelas galerias e lojas para ir à Rua Santo Afonso só para não passar por aqui. Depois das obras de reurbanização e da nossa chegada, eles vinham conversar. Alguns traziam água, café e bolinhos para nos agradecer — recorda a vendedora.

O sucesso do comércio no local foi tão grande que, em 1998, o trecho se emancipou e deixou de ser parte da Rua Major Ávila para se tornar, oficialmente, Rua das Flores.

 

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