Escombros. O caramanchão histórico da Praça Nobel que desabou em maio continua no local. Chamada para vistoriar, a prefeitura decidiu demolir o restante, mas não retirou o entulho – Brenno Carvalho

Prefeitura se comprometeu a vistoriar os espaços de lazer

Por Mauricio Peixoto

Símbolos do lazer e do convívio público, as praças da região se revelam, infelizmente, retrato do abandono e do descaso das autoridades, além de serem vítimas da falta de civilidade da população. Basta uma simples ronda pelos principais logradouros da Grande Tijuca para se constatar que a maioria coleciona problemas. Entre eles, a falta de manutenção e, por vezes, destruição dos brinquedos dos parques e dos aparelhos da Academia da Terceira Idade; a inoperância de fontes e chafarizes, desligados há mais de um ano; o descaso com as quadras poliesportivas, que precisam de cuidados e manutenção; a ação de flanelinhas e usuários de drogas no seu entorno; e a realização de eventos irregulares e fora do horário permitido em algumas delas.

Os escombros do histórico caramanchão da Praça Nobel, no Grajaú, largados no chão há mais de um mês, são um dos grandes exemplos deste descaso. De concreto revestido com pequenos blocos de granito, o caramanchão foi inaugurado em 1941, junto com a praça, tendo sido idealizado por Azevedo Neto (1908-1962), urbanista famoso por realizar obras de paisagismo na cidade entre os anos de 1930 e 1950, tais como os da Praça Saens Peña, os recantos do Alto da Boa Vista, o Jardim de Alah e a Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.

Integrantes do movimento “Clínica sim, praça sim”, formado em 2015 visando a impedir a destruição da Praça Nobel para a construção da Clínica da Família (na ocasião o grupo conseguiu que a clínica fosse construída em terreno próximo, na Rua Botucatu), afirmam que uma parte do caramanchão desabou no final de maio. Em 2015 houve um aviso de que a construção estava deteriorada.

— Sou engenheiro e havia percebido que o caramanchão estava sob ameaça. Ligamos para a prefeitura e ela simplesmente nada fez. Eis que agora ele veio a desabar. Sorte que foi de noite e ninguém se machucou. Felizmente, nem os moradores de rua, que costumam passar a noite, estavam ali — diz o engenheiro civil aposentado Fernando Branquinho.

O economista José Augusto Cerqueira afirma que o grupo ligou para a Defesa Civil pedindo que verificassem se o resto do caramanchão estava comprometido.

— Eles vieram e simplesmente demoliram. O certo era terem feito uma obra de recuperação. Esse caramanchão é o símbolo da Praça Nobel. E o pior é que eles nem recolheram os destroços durante esse tempo. Há vigas e ferragens expostas colocando em perigo a população — reclama Cerqueira.

O grupo também se queixa de que o muro de pedra ao lado do antigo caramanchão está comprometido.

— Era para a Defesa Civil ter colocado uma faixa isolando o local. O muro fica ao lado do parquinho. Há risco de acidentes graves — ressalta o economista.

Na Praça Nobel, a Academia da Terceira Idade tem aparelhos com defeitos, lâmpadas queimadas e quadras com grades destruídas.

Praça Edmundo Rêgo

Em relação aos chafarizes desligados há mais de um ano, a Secretaria de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) afirmou que o novo contrato entrou em vigor no dia 14 de maio e que o órgão já está trabalhando na manutenção de algumas dessas fontes. O chafariz da Praça Afonso Vizeu, no Alto da Boa Vista, é o único da região já em funcionamento; o da Xavier de Brito volta em um mês; o do Rio Comprido, em dois meses; e o da Saens Peña não tem previsão de voltar a funcionar.

A Seconserma também informou que as praças estão sendo vistoriadas por técnicos, em conjunto com a Comlurb, para que os reparos sejam executados o mais rapidamente possível.

Na praça central do Grajaú, moradores de rua tomam conta dos bancos abaixo do caramanchão, onde fazem suas necessidades fisiológicas e deixam lixo e objetos espalhados. Com aparelhos danificados e enferrujados, a Academia da Terceira Idade do local está vazia.

— Eu caminho até a Xavier de Brito para me exercitar. Já fizemos diversas reclamações, mas nada mudou — afirma o aposentado José Miranda.

Além dos problemas citados, o parque infantil está com o seu piso cheio de buracos e tem brinquedos danificados.

Praça Afonso Pena

Logradouro público entre os mais antigos da região (109 anos), a Praça Afonso Pena apresenta problemas estruturais, como a maioria dos espaços do gênero na Grande Tijuca. Brinquedos quebrados (na foto, a gangorra); buracos na ciclovia; banheiros públicos em desuso; bancos de madeira com defeito; e jardinagem dos canteiros precisando de manutenção são alguns deles. No local, segundo os moradores, pessoas usam drogas à luz do dia. Por outro lado, um ponto positivo: os aparelhos da Academia da Terceira Idade funcionam perfeitamente.

Praça da Bandeira

Revitalizada devido às obras de controle de enchentes da Grande Tijuca, no final de 2013, a Praça da Bandeira precisa de novas intervenções. Os aparelhos da Academia da Terceira Idade estão danificados, o parquinho está com a gangorra e os balanços quebrados. Além disso, a grade de proteção que separa a praça da via expressa está parcialmente destruída.

— É muito perigoso, e a atenção tem que ser redobrada. Imagina se uma bola cair na via expressa e a criança for pegar. Graças a Deus nunca houve nada grave — afirma a dona de casa Daiana Soares.

Praça Saens Peña

Na praça mais movimentada da região, o cenário não convida ao lazer. Aparelhos para a terceira idade danificados, parque sem balanços e com os brinquedos de madeira exibindo farpas e pregos expostos são apenas alguns dos pontos negativos. O chafariz não funciona há mais de um ano, e os banheiros públicos, retirados há dois, não têm previsão de serem reativados. Há grande concentração de moradores de rua. E outro problema crônico nos arredores é a presença de ambulantes, que tomam as calçadas das ruas Conde de Bonfim e General Roca.

Praça Xavier de Brito

A Xavier de Brito, conhecida como a praça dos cavalinhos, tem dois banheiros públicos interditados com a inscrição “Quebraram de novo. Vamos cuidar do que é nosso”, mas apenas um aparelho da Academia da Terceira Idade está com defeito. O chafariz de ferro fundido acumula água e sujeira e está em desuso há mais de um ano, e o balanço do parquinho está quebrado. A presença de usuários de drogas, a qualquer hora do dia e livremente, também é constante, segundo moradores.

Praça Barão de Drummond

Na principal praça de Vila Isabel, a desordem impera: eventos irregulares, com som alto após o horário de silêncio, acontecem semanalmente; o uso de drogas é livre e à luz do dia, inclusive ao lado do parque infantil; os banheiros públicos estão danificados; a Academia da Terceira Idade é uma das que se encontram em piores condições em toda a região; e o parquinho, além de não ter um dos balanços, está com as grades de proteção quebradas. Na quadra, há apenas uma tabela de basquete, com o aro torto. A outra foi retirada há mais de um ano e não foi resposta.

— Não há quadras legais pela Tijuca para se jogar basquete como tem que ser, com um time para cada lado. Temos que nos deslocar para a Lagoa ou para o Aterro do Flamengo — lamenta o estudante Saulo Gomes.

Praça Niterói

Outro espaço revitalizado por ocasião das obras de controle de enchentes da Grande Tijuca, entregue em outubro de 2015, a Praça Niterói apresenta uma lista de problemas. O espaço não tem proteção contra o sol. O parque infantil tem um dos brinquedos para deficientes quebrado e está com o chão descolado, podendo gerar tropeços e acidentes.

— Nos períodos de sol forte é impossível trazer as crianças. E quando escurece, os brinquedos continuam pegando fogo. É urgente uma proteção contra o sol e um pouquinho mais de cuidado com os brinquedos e o piso — afirma Zélia Ramos.

A quadra poliesportiva está sem as tabelas de basquete, a Academia da Terceira Idade tem equipamentos danificados e os flanelinhas tomam conta do estacionamento no entorno também.

A Niterói é a única praça da região que conta com um trailer fixo da Guarda Municipal.

Praça Varnhagen

Assim como a Praça Niterói e a Praça da Bandeira, a Varnhagen foi revitalizada por ocasião das obras contra enchentes, e entregue em junho de 2016. O parque infantil, que não tem proteção contra o sol, tem grades, piso e brinquedo para deficientes danificados. A Academia da Terceira Idade também tem aparelhos quebrados. Assim como acontece com a Praça Niterói, os flanelinhas agem livremente no entorno.

Praça Condessa Paulo de Frontin

Na pracinha do Rio Comprido, o belo chafariz de ferro fundido, desativado há mais de um ano, virou depósito de objetos dos moradores de rua que por ali transitam, usando o local como dormitório à noite. A Academia da Terceira Idade, trancada para evitar a ação de vândalos, está com o teto de lona cheio de buracos, formados por pessoas que sobem e ficam pulando. No parque, o balanço e a gangorra estão tortos.