Objetivo é proteger o monumento durante os desfiles de blocos em Vila Isabel

Fonte por Diego De Amorim, sob supervisão de Leila Youssef para Jornal O Globo

Um dos símbolos do samba e do carnaval passará a folia deste ano atrás das grades. A estátua do poeta e compositor Noel Rosa, localizada no Boulevard Vinte e Oito de Setembro, em Vila Isabel, foi gradeada pela Prefeitura do Rio. O objetivo da Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente é proteger 16 dos mais de mil monumentos, evitando que sejam danificados durante os desfiles dos blocos de carnaval.

No entanto, considerando apenas as estátuas interativas, a iniciativa limitou-se ao sambista carioca. Nem Carlos Drummond de Andrade, Tom Jobim, Joaquim Nabuco, Michael Jackson, Tim MAIA ou Clarice Lispector foram “presos” antes do carnaval. Essas estátuas são estruturas de bronze de figuras públicas, sempre em tamanho natural, instaladas na rua ao nível do chão – ideais para uma foto coladinho. A secretaria explica que a escolha por Noel deve-se ao fato da estátua ficar em um local com grande concentração de público durante os blocos. Criada em 1996, a peça retrata uma cena do músico e poeta boêmio sentado, fumando um cigarro e sendo servido por um garçom, numa referência a um dos seus sambas mais famosos: “Conversa de botequim”. Em dezembro de 2015, três partes da escultura haviam sido serradas, sendo reinaugurada em outubro do último ano.

Entre os outros monumentos protegidos para o carnaval estão os chafarizes das praças General Osório, em Ipanema, Santos Dumont, na Gávea, Pio X, no Centro, São Salvador, em Laranjeiras; o relógio do Largo da Carioca; e cinco monumentos na Praça Tiradentes, no Centro do Rio. O gradeamento foi feito pela empresa Dream Factory, responsável por toda a infraestrutura do carnaval de rua.

Além desses, os canteiros de vegetação da orla de Ipanema, Copacabana, Leblon e São Conrado, das ruas internas de Ipanema e Leblon, da Praça Santos Dumont, na Gávea, e da Praça General Osório, em Ipanema, tem sido cercados com telas de proteção de propileno semelhantes às que cercam obras nas ruas da cidade. Ao todo, foram utilizados 16 mil metros lineares de cercamento em toda a cidade do Rio. De acordo com a Secretaria de Conservação, foram atendidos 196 monumentos e chafarizes em 2016, por motivos de limpeza de rotina, retirada de possíveis pichações, reparos, confecção de pedestais e reposições de pequenas placas. A secretaria não soube precisar os casos específicos de vandalismo, inclusos nos 196 casos. Por ano, a secretaria destina cerca de R$ 2,5 milhões para conservação e manutenção dessas obras.

População lamenta gradeamento

Preservar é importante, mas a conscientização deveria prevalecer, acredita a sociedade. Rubem Duarte, de 24 anos, lamenta a necessidade do gradeamento estipulado pela prefeitura. A professora Luciane Pires, 35 anos, lembra que o carnaval atrai muitos turistas que adoram ser fotografados junto aos monumentos interativos e, assim, se integrar à cultura local.

– A ideia é a interação com a cena. É uma pena que as pessoas não terão acesso – diz.

Mônica Vieira, 25 anos, destaca que o carnaval não deveria significar vandalismo, mas que essa tem sido a realidade. A vendedora costuma curtir os blocos e conta que, infelizmente, já presenciou várias cenas de depredação. Apesar de reconhecer a necessidade do gradeamento, ela acha que a medida tira um pouco da beleza da cidade.

– Seria muito melhor se as pessoas aproveitassem a folia e respeitassem os patrimônios públicos. Não precisaria de grades e cercas, a cidade ficaria mais bonita. Esteticamente fica feio, mas eu compreendo. Falta respeito a algumas pessoas – aponta a jovem.

Vandalismo é comum

Depredações de monumentos são recorrentes na cidade. Quando teve as suas partes serradas, a estátua de Noel Rosa perdeu o braço esquerdo e o pé direito, além do braço esquerdo do garçom que faz parte do conjunto escultórico. Antes, o poeta já havia sido alvo de pichações nas costas. A peça foi restaurada pelo próprio artista que a esculpiu numa fundição. Os serviços custaram R$ 95 mil.

Também em dezembro de 2015, a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade teve os óculos arrancados em Copacabana, pela nova vez desde a sua inauguração, em 2002. Foram gastos R$ 15 mil com a última recuperação. Em janeiro deste ano, a estátua do Bellini, no Maracanã, amanheceu pichada. Na Praça Paris, na Glória, as placas do monumento ao Almirante Barroso já foram arrancadas e substituídas várias vezes.

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