Dados levantados por líderes comunitários em 13 localidades mostram 254 óbitos.

Para especialistas, o número de vítimas pode ser 5 vezes maior

Por Rafael Nascimento de Souza para O Globo

RIO — Dados levantados por líderes comunitários em 13 favelas da cidade do Rio mostram que o número de mortos em decorrência do novo coronavírus nos locais pesquisados chegou a 254 nesta sexta-feira, um aumento de 97% em relação ao último dia 14, quando foram contabilizados 129 óbitos nas mesmas áreas.

Na estatística da prefeitura, aparecem 190 óbitos, em 14 comunidades, algumas delas diferentes das que constam no levantamento informal. Para especialistas, a quantidade de vítimas pode ser cinco vezes maior, já que a subnotificação é alta.

Moradora da Rocinha, onde já houve 206 casos da doença e 55 mortes, segundo os dados oficiais, a manicure Fabiola Mariano, de 35 anos, conta como a Covid-19 abalou sua família.

Ela já perdeu dois tios e um primo, em menos de dois meses, para a doença. Ela mesma já teve sintomas da infecção causada pelo novo coronavírus, mas, sem ter acesso a testes, não sabe dizer se foi, de fato, contaminada.

— No fim de março, meu tio passou mal, foi para a UPA e diagnosticaram pneumonia. Voltou para casa e, dois dias depois, com muita falta de ar, precisou ser levado para a Coordenação de Emergência Regional Leblon, onde morreu. Como ele não fez o exame, não sabemos se ele realmente foi vítima da Covid, mas a suspeita é essa. Na mesma época, meu primo ficou doente e disseram que era dengue. Por duas semanas, ele ficou muito debilitado. Só após a morte do meu tio é que ele foi à UPA de Copacabana e descobriram que ele estava com Covid-19 — contou.

Segundo Fabiola, após ser diagnosticado com o novo coronavírus, seu primo foi levado para o Hospital do Cérebro, no Centro. Foram só três dias de internação até morrer. Um mês depois, a doença matou a mãe dele.

— Além de perder meus tios e um primo, uma prima também foi contaminada, mas graças a Deus se curou. Só eu conheço mais de 20 pessoas que morreram — lamenta.

Outros líderes comunitários também estão contabilizando mortes em favelas. O painel #CoronaNasFavelas, organizado pelo coletivo Frente Maré, registrou 296 casos em 16 comunidades. Entre elas, está o morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, onde não consta nenhuma morte no painel da prefeitura.

— Vendo a realidade das comunidades, a quantidade de mortos é cinco vezes maior — estima Amanda Mendonça, assistente social que mora na Maré e faz parte do coletivo.

Já o painel Covid-19 nas Favelas criado pelo jornal “Voz das Comunidades”, no Alemão, acompanha dados de 13 favelas, com base em estatísticas de Clínicas da Família. Na região, o município registrou cinco óbitos, mas o levantamento comunitário chegou a 28.

Sobre a Tijuca, Jaime Miranda, presidente da Nova Tijuca, a Associação Empresarial e de Moradores da Grande Tijuca, faz o seguinte comentário:

— Certamente também são extensivas às comunidades da Tijuca e isso é muito preocupante. Já existe uma subnotificação dos casos de morte por COVID-19 em todo o país. E o que sabemos é que essa subnotificação é muito maior nas comunidades.

— Precisamos de uma atenção total do poder público em relação este fato. O ideal seria criar uma força-tarefa específica para cuidar e dar atenção as necessidades que essas comunidades estão tendo por conta da pandemia.

Procurada, a Prefeitura do Rio não respondeu.