Evento chega esse ano à 11ª edição; inscrições vão até domingo

Fonte por Stéfano Salles para Jornal O Globo

Um das responsáveis pelo renascimento do carnaval de rua do Rio, a Fundição Progresso está com inscrições abertas até domingo para a 11ª edição do concurso de marchinhas que, este ano, vai homenagear Noel Rosa, e distribuirá R$ 12 mil em prêmios. Até o fechamento desta edição, o Poeta da Vila e sua obra já tinham servido de inspiração para 600 composições de todo o Brasil. Mas os organizadores estimam que o número salte para 900 até o encerramento do prazo.

Entusiasmados com o concurso, quatro compositores, moradores da Grande Tijuca, se reuniram na quadra da Unidos de Vila Isabel. Sob as bênçãos de Noel Rosa — lembrado em uma escultura utilizada pela escola no carnaval de 2010 e que adorna a fachada da quadra —, eles buscam, além de sorte, um pouco de inspiração.

O aposentado Antonio Claudio Martins Duarte tem o hábito de compor letras para gospel e MPB. Mesmo assim, decidiu se aventurar no concurso, para o qual preparou três marchinhas. Saudosista, o “calouro” acredita que o estilo musical ficou perdido em algum lugar do passado, e enaltece a iniciativa que pretende resgatá-lo.

— As marchinhas faziam muito sucesso nos antigos bailes de carnaval e de salão realizados nos clubes. Tivemos uma tradição de grandes compositores, como Lamartine Babo e Noel Rosa, e isso não foi renovado. Decidi me arriscar, mas sei que é uma competição de altíssimo nível. Dificilmente terei alguma chance. O que vale mesmo é a experiência — afirma Duarte, que mora na Tijuca.

De acordo com a organização do concurso, um júri formado por especialistas ouvirá todas as marchinhas inscritas e selecionará as cinco finalistas. Destas, sairá a vencedora, que será escolhida por votação popular pela internet. Diretora do concurso, Vanessa Damasco afirma que reverenciar Noel Rosa era um antigo desejo.

— Os homenageados são uma referência para os compositores e uma maneira de manter vivo o seu legado. É um verdadeiro processo de retroalimentação — explica.

O concurso se tornou mais popular na edição de 2014, quando a irreverente marchinha “Cadê a viga?”, de Cássio e Rita Tucunduva, questionava o prefeito Eduardo Paes sobre o até hoje inexplicado desaparecimento das vigas da Perimetral. A composição reflete a tradição do concurso para as marchinhas de protesto, mas Vanessa Damasco faz um alerta.

— A composição venceu porque era excelente. Não basta a marchinha ser de protesto: ela precisa ser boa — diz.

Morador de Vila Isabel, o corretor de imóveis Tony Garcia compõe desde os 15 anos. Em sua quarta participação no concurso, ele inscreveu duas marchinhas e está esperançoso em obter um bom resultado. Torcedor da Vila, ficou entusiasmado com a homenagem a Noel Rosa.

— Lembrar os feitos de nossos baluartes é sempre muito importante. O concurso revive uma tradição que tem a cara do Rio e que envolve todos os apaixonados pelo carnaval — afirma.

Moradora da Tijuca, a professora de Português Lygia Pinheiro é uma veterana do concurso. Em sua nona participação, ela destaca o aspecto histórico-cultural do evento.

— As marchinhas apresentam com humor as críticas sociais. São um fenômeno próprio do carioca e não podem se perder. A homenagem a Noel Rosa é linda — diz a professora.

Também tijucana, a aposentada Marcia Distasio compôs, em parceria com a amiga Giselle Del Pino, a marchinha “Revivendo”, que, para ela, representa a essência de todas as edições do concurso.

 

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