Municipal e Tijuca somam oito títulos estaduais nos últimos 11 anos

Fonte por Stéfano Salles para Jornal O Globo

Não é simples encontrar um esporte que revele a excelência tijucana. Em parte das modalidades, o bom desempenho parece estar atrelado ao passado. Apesar de o Maracanã estar bem próximo do bairro e dos grandes jogos, há tempos o América já não brilha mais por ali. A tradição do basquete do Tijuca também é uma pista momentaneamente falsa: fora do NBB há dois anos, atualmente o clube mantém apenas equipes de base. Mas, na última década, as instituições do bairro têm se destacado em um esporte no qual a capacidade analítica, a formulação de estratégias e a velocidade de raciocínio são fundamentais, e a torcida atrapalha: o xadrez.

Nos campeonatos estaduais realizados entre 2005 e 2015, o desempenho dos clubes tijucanos têm feito os rivais deitarem o rei. Juntos, Club Municipal e Tijuca Tênis Clube arrebataram nada menos que oito títulos por equipes, além de centenas de conquistas individuais. Dono do maior salão de xadrez do Rio, com capacidade para 80 jogadores, o clube da Rua Conde de Bonfim é a potência estadual do esporte. Conquistou quatro dos últimos cinco troféus e soma nove títulos em sua galeria. O Municipal, segundo colocado, segue de longe, com quatro taças.

Diretor de xadrez do Tijuca e ex-presidente da Federação de Xadrez do Estado do Rio de Janeiro (Fxerj), o advogado Reynaldo Velloso revela os segredos do sucesso.

— Nosso salão é o melhor do Rio, tem refrigeração e frequentemente sedia as competições promovidas pela Fxerj. Temos um excelente time e um quadro social que participa das atividades. Nosso título mais importante foi o campeonato brasileiro por equipes, em 1998 — orgulha-se Velloso.

Treinador do Club Municipal há 20 anos, o professor Selmo Bastos já formou dezenas de campeões da modalidade. Apaixonado pelo esporte, ele comanda uma equipe com 100 atletas, além de uma escolinha para enxadristas de todas as idades, divididos por níveis de conhecimento. Boa parte das turmas é composta por adultos que não pretendem se tornar profissionais: eles buscam os benefícios trazidos pela prática.

— O xadrez é perfeito para desenvolver foco, concentração e raciocínio lógico. Por isso, muita gente que está se preparando para concursos públicos e vestibulares nos procura. Em um dia de aula o aluno já conhece o movimento das peças. Não é difícil como pode parecer. A partir daí, ele precisa estudar a teoria: aberturas, meio-jogo e final. É o esforço que vai determinar o nível de cada jogador — diz.

Atualmente, o Rio tem 25 clubes de xadrez em atividade. Entre eles, estão também os de futebol: o Fluminense voltou à modalidade em 2014. No ano passado, foi a vez do Vasco. Mas nenhum dos dois tem equipes competitivas. Ex-atleta do Flamengo, Selmo lembra que, até o início dos anos 90, eram comuns os Fla-Flus da modalidade, mas não era permitida a entrada de torcida.

— Dizem que o tênis é um esporte que exige silêncio, mas atletas e torcedores explodem nas comemorações de pontos, sets e em bons lances. No xadrez isso não é possível, porque tira a concentração. Todo mundo teria que ser retirado do local caso acontecesse. O nosso é o único esporte que odeia a torcida — diverte-se o treinador.

Apesar do avanço da indústria de games ter afastado o público infanto-juvenil dos jogos de tabuleiro, o xadrez não foi abalado pelo impacto das mudanças tecnológicas. Reynaldo Velloso garante que, ao longo do tempo, o esporte foi beneficiado pelas inovações.

— O xadrez tem a terceira maior biblioteca do mundo, atrás apenas das de Medicina e Informática. Essa variedade está na internet, disponível em livros em PDF, e é explorada em uma gama de bons sites. Também há centenas de programas que ajudam no desenvolvimento do jogador — afirma.

Campeão estadual da categoria sênior pelo Tijuca em 2015, o jornalista Ricardo Teixeira concorda e lembra que há publicações de xadrez especialmente desenvolvidas para as plataformas digitais.

— Não são apenas livros. O enxadrista lê a teoria, enxerga a jogada e, depois, a executa em um tabuleiro digital, na mesma tela. É interativo e divertido. Antigamente, nós só tínhamos os livros, era bem mais desgastante — resume.

Professor de Educação Física do Ginásio Experimental Olímpico (Geo) de Santa Teresa, onde dá aulas de xadrez, Antônio Holanda encaminha os alunos mais talentosos para os dois clubes da Tijuca. Para ele, a rivalidade é importante para o esporte.

— É bom que tenhamos mais de um clube forte, isso fortalece o xadrez e dissemina a cultura. O trabalho escolar renova o público. É a divisão se base; é lá que acontece a iniciação. Depois, os jovens devem ser encaminhados a equipe para desenvolver por completo todo o seu potencial — avalia Holanda.

Reynaldo lamenta que o xadrez nunca tenha feito parte do programa olímpico internacional, que não contempla os jogos da mente.

— Ele é praticado no mundo inteiro por homens e mulheres em proporção muito maior do que a de muitos esportes olímpicos, como o golfe. Qual é o sentido de estar fora e o hipismo fazer parte, por exemplo? No hipismo, o atleta é o cavalo — protesta o diretor do Tijuca.

Onde encontrar:

Club Municipal. Rua Haddock Lobo 359. Escolinhas a R$ 100, para todas as idades. Telefone: 2569-4822.

Tijuca Tênis Clube. Rua Conde de Bonfim 451. Escolinhas a partir de março. Preço: em definição. Telefone. 3294-9300.

 

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