Apesar da mudança de nome, a proposta é manter a alma do boteco.

Fonte por Pedro Zuazo para Extra

Das cinzas do Petisco da Vila, está prestes a renascer um reduto de boemia na Zona Norte da cidade. Fechado há quatro meses, o ponto onde o tradicional bar funcionou por mais de 40 anos, na esquina do Boulevard 28 de Setembro com a Rua Visconde de Abaeté, em Vila Isabel, dará lugar à Chopperia Sempre Vila. As obras de reforma começaram essa semana e a inauguração está marcada para o dia 18 de agosto. Apesar da mudança de nome, a proposta é manter a alma do boteco.

Por trás do novo empreendimento está o empresário Jorge Artur Mendes, dono do bar Sempre Vila, que fica no mesmo quarteirão, e membro da ala de compositores da Unidos de Vila Isabel. Conhecido no meio artístico como Artur das Ferragens e autor de dez sambas-enredo da agremiação azul e branca, o sócio promete manter a vocação do espaço.

— Vamos seguir a linha de botequim, com bom preço e chope gelado. Na inauguração, teremos a presença das baterias da Vila, da Mangueira e da Beija-flor. A identidade será nova, mas a alma será a mesma. Quando o Petisco adormeceu, a Vila Isabel adormeceu junto. O nosso bairro está perdendo a imagem de símbolo da boemia e passando a ser lembrado pela violência. Queremos trazer de volta essa essência da Vila — diz Artur.

A notícia foi comemorada por antigos frequentadores do Petisco, que temiam a demolição do bar e a construção de um edifício no local. Para Martinho da Vila, que durante muitos anos participou ali de rodas de samba formadas por bambas como João Nogueira, Neguinho da Beija-Flor e Arlindo Cruz, o novo estabelecimento vai somar para o cenário noturno carioca.

— É uma boa notícia. O ideal seria que fosse o retorno do Petisco, que já estava incorporado ao bairro e, de certo modo, até à cidade. Mas como não temos o ideal, precisamos nos agarrar ao que temos. Fico feliz — vibra o sambista.

O cantor Xande de Pilares, que no passado se apresentava no local com o grupo Compasso da Vila, guarda lembranças do Petisco que marcaram o início da sua carreira.

— Um dia estávamos tocando no palco e o Martinho estava sentado na plateia. De repente apareceu uma equipe de reportagem de TV e eu fiquei todo bobo, falei para o pessoal caprichar. No fim, não era nada do que eu pensava. Eles estavam ali porque os vizinhos estavam reclamando muito do barulho — conta ele, que comemora a novidade: — Quando o Petisco fechou, machucou meu coração. Fico feliz que vai reabrir, mesmo que seja com outro nome.

Parede da fama

A reforma trará algumas mudanças para o espaço. Uma parte do balcão será transformada em boutique de itens da escola de samba do bairro. Terá de tudo, desde canecas até camisas da agremiação. A estrutura onde funcionava um bufê será retirada para dar lugar a mais mesas. Ao fundo, será criada uma parede da fama, onde os ex-frequentadores assíduos do Petisco serão homenageados com retratos pintados a mão.

Um dos laureados será o engenheiro Rui Amorim, que há 25 anos organiza a eleição do 171 do bairro, realizada sempre no dia 17 de janeiro (17/1). O anúncio do fechamento do espaço tinha deixado a brincadeira com destino incerto.

— O 171 foi criado pelo Perna (Antonio Carlos Barromeu, morto em 1992) em 1984 e pela primeira vez teria que ser feito em outro lugar, mas agora está mais garantido do que nunca. Enfim, teremos nosso espaço de volta — comemora.

Artur das Ferragens pretende também reeditar outra tradição criada pelo Perna: a ceia “Quem tem põe, quem não tem tira”.

— Acontecia na véspera do Natal do dia 24 para o dia 25. As pessoas que podiam traziam a ceia e os menos favorecidos comiam. Esse ano, vamos fazer no dia 20 ou 22 de dezembro — diz Artur.

Para manter a essência da casa, o sócio garante que serão mantidos no cardápio os principais petiscos. A notícia agradou o diretor de harmonia da Unidos da Tijuca, Tonho Duarte, outro velho frequentador do ponto.

— Já estou com saudades da fraldinha ao molho de madeira — diz ele, que festeja o retorno do reduto de sambistas: — Os saudosistas vão sentir falta do nome do Petisco, mas o que importa é que voltamos a ter o nosso ponto de encontro.

Sem aviso prévio

Em março deste ano, sem dar aviso prévio aos 16 funcionários da casa, os proprietários do Petisco da Vila anunciaram o encerramento das atividades. Em nota enviada à imprensa, a direção da casa apontou como motivos o aumento da violência e a desaceleração da economia, que teriam reduzido a movimentação na região.

O Jornal procurou a família responsável pela administração do bar, mas não localizou ninguém.

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