Sem previsão para receber, funcionários estão com dificuldades para chegar ao trabalho

Fonte por Renan Rodrigues para Jornal O Globo

O Hospital universitário Pedro Ernesto (Hupe), em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, suspendeu nesta segunda-feira novas internações. A medida, segundo a unidade, ocorreu devido ao atraso no pagamento de servidores, que já chega a dois meses e meio (metade do mês de setembro, outubro e novembro), além do décimo terceiro do ano passado. Vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a unidade é referência, por exemplo, em transplantes de rins.

De acordo com a unidade, sem a previsão de pagamento, muitos servidores estão com dificuldades para trabalhar. Por isso, a ação visa reduzir o número de leitos ocupados de 250 para 180. As internações devem voltar a ocorrer quando esse número for atingido. “Considerando a necessidade de garantir a qualidade do atendimento dos pacientes internados, neste momento de escassez de recursos humanos, em virtude da ausência de pagamento de salários, a direção do HUPE resolve interromper as internações até que alcancemos um universo de 180 leitos ocupados”.

Segundo o reitor da Uerj, Ruy Garcia Marques, a decisão pela redução ocorreu na última sexta-feira. Segundo ele, o hospital ainda está aberto porque a unidade recebe, mensalmente, uma verba de R$ 7,5 milhões de custeio, oriunda, segundo a assesoria de imprensa da unidade, de uma decisão judicial.

— Docentes e técnicos administrativos não conseguem vir à universidade por não terem dinheiro para a sua locomoção. Isso se faz sentir de forma mais perversa no Hospital Pedro Ernesto, onde lidamos com vidas. Sou médico, sou cirurgião. Preciso de dinheiro para pagar o ônibus, a gasolina, o almoço. Como punir pessoas que não conseguem vir? Essa é uma greve completamente diferente de outras que a Uerj já teve — afirma o reitor.

As dificuldades da unidade não são recentes. Em abril,  o Jornal publicou que o Hospital Universitário Pedro Ernesto, vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, estudava um plano de contingência para o funcionamento. Na ocasião, a direção aguardava uma sinalização do Palácio Guanabara sobre o pagamento dos servidores — aproximadamente 2.700 pessoas, incluindo a parte administrativa. Caso contrário, os atendimentos no hospital poderiam ser reduzidos, alertava o diretor Edmar Santos.

Na época, segundo Santos, o principal efeito da crise era justamente nas internações. A unidade operava com 200 leitos, o equivalente a 57% da média da unidade, que tinha 512 leitos em sua origem e há dez anos já não operava esse total de vagas (“O hospital trabalha com no máximo 370 leitos”, afirmou na época o diretor da unidade).

O Hospital Universitário Pedro Ernesto foi inaugurado em 1950 como parte da rede hospitalar da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Em 1962, tornou-se hospital-escola da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No ano de 1965, foi incorporado à UEG como Hospital das Clínicas. Em 1975, sofre uma mudança e se torna um hospital de atendimento geral, em decorrência do convênio firmado com o Ministério da Educação e Previdência Social (Convênio MEC-MPAS), adequando-se às necessidades da população mais carente. O hospital atende a 41 especialidades, como cardiologia, doenças infeccionas parasitárias, ginecologia e nefrologia.

Crise no Hospital do Fundão

Outro hospital universitário que sofre com a crise da Saúde é o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ. As marcações para clínica médica, cardiologia, geriatria, reumatologia, nefrologia, cirurgia torácica e ressonância magnética estão suspensas. Referência em pesquisa e casos de alta complexidade, a unidade, na Ilha do Fundão, também deixou de fazer o procedimento de implantação de um neuroestimulador — comparado a um marcapasso no cérebro — em pessoas com mal de Parkinson. A falta de recursos, que vem se agravando de 2014 para cá, atinge todos os setores do HUCFF.