Expectativa. Rua Pereira Nunes, em Vila Isabel, é uma das raras que contaram com decoração temática para a Copa da Rússia – Pedro Teixeira / Pedro Teixeira/Agência O Globo

Moradores citam crise econômica e violência como causas da recepção mais fria ao Mundial

Por Gabriel Oliveira para O Globo

A Copa do Mundo da Rússia começa nesta quinta-feira, e o Brasil mais uma vez entra como um forte candidato ao título, mesmo que a memória dos 7 x 1 para a Alemanha em 2014 ainda assombre muitos torcedores. No entanto, o costumeiro clima festivo do carioca parece ter perdido força na Grande Tijuca. Na maioria das ruas da região, manifestações de apoio são raras. Uma das poucas exceções é a Rua Pereira Nunes, em Vila Isabel, onde um grupo de moradores se uniu para pintar o asfalto e muros e erguer bandeirinhas no alto dos postes.

Entre as razões que mais influenciaram na queda da euforia com a Copa, fatores como desemprego, crise econômica, escândalos na política e até mesmo desconexão da seleção com o povo são os mais citados.

Morador de Vila Isabel desde que nasceu, o corretor de planos de saúde Victor Marques, de 36 anos, diz que a tradição de pintar a Rua Pereira Nunes existe pelo menos desde a Copa de 1990, mas percebeu que este ano um clima de desânimo tomou conta do bairro. Ainda assim, ele e um grupo de amigos decidiram manter viva a tradição de colorir o asfalto e os muros.

— Nós percebemos essa falta de entusiasmo aqui e em bairros vizinhos, que sempre foram conhecidos pela animação pré-Copa, e resolvemos nos mobilizar. Para nós, é uma brincadeira gostosa e uma forma de manter essa tradição.

Marques reconhece que o cenário de crise na cidade e no país contribui para que a Copa da Rússia tenha uma recepção mais fria dos brasileiros do que nas edições anteriores, mas garante que a ação de decorar e pintar a rua não deve ser confundida com alienação.

Tradição mantida. Mesmo em período de crise, moradores apoiaram as pinturas – Pedro Teixeira/Agência O Globo

— Teremos uma área que será usada apenas para protestos. Vamos brincar na Copa, mas não estamos desconectados dos problemas do país — explica.

Morador de Vila Isabel há 30 anos, o mecânico Genival Barros é outro que destaca o pouco entusiasmo com a Copa. Para ele, a raiz do problema está na crise econômica e no desemprego.

— Antigamente, várias ruas daqui da região começavam a ser pintadas com dois ou três meses de antecedência. Sempre foi assim. Mas se você está desempregado, cheio de dívidas para pagar, não vai ter cabeça para colorir rua antes da Copa — resume.

Os amigos José Vitorino e José Messias, ambos aposentados, acreditam que o ânimo dos torcedores com o mundial vai melhorar caso a seleção faça bonito em campo, mas consideram que o crescimento da violência teve papel determinante para a menor presença de torcedores nas ruas.

Esperança. Muitos ainda torcem por bom futebol da seleção na Copa – Pedro Teixeira/Agência O Globo

— Em 2002, as vias da região ficavam lotadas nos jogos do Brasil, mesmo os de madrugada, mas quem vai fazer isso hoje? Muita gente tem medo de ser assaltada ou ser vítima de um arrastão e acaba preferindo ver o jogo em casa — ressalta Vitorino.

No entanto, nem tudo é desesperança. Victor Marques acredita que quando a seleção entrar em campo, o coração do torcedor brasileiro vai falar mais alto.

— Tenho certeza que, se o Brasil começar a ganhar e jogar bem, as ruas vão ficar cheias na hora dos jogos. Na Olimpíada, por exemplo, foi assim — recorda.