“O tempo não passa”. A frase de “Aion” estava coberta por terra – Divulgação/Anderson Ribeiro

Guia da Transcarioca reencontra ‘Aion’, inaugurada em 1997 por Lia do Rio

Por Maurício Peixoto para O Globo

Uma obra de arte contemporânea em estado de deterioração foi reencontrada no meio de uma trilha na Floresta da Tijuca em junho passado e acaba de ser reinaugurada. Após anos de esquecimento, “Aion” (o nome é referência a um dos deuses gregos do tempo), criada pela artista plástica Lia do Rio, foi redescoberta pelo guia Anderson Ribeiro. A obra, inaugurada em 1997, é composta por uma frase feita de pedra, com os dizeres “O tempo não passa”, que rodeiam o tronco de uma árvore secular.

Montanhista há 20 anos e guia de turismo há sete, Ribeiro faz parte da comissão executiva da Trilha Transcarioca, sendo um dos responsáveis pela manutenção do trecho que passa pelo setor Floresta da Tijuca do Parque Nacional da Tijuca (PNT). O trecho, de cerca de seis quilômetros, engloba pontos históricos importantes, entre eles construções da época dos escravos, a Capela Mayrink e o Alto do Cruzeiro, local onde está a obra “Aion”, próximo ao Centro de Visitantes e ao Recanto dos Pintores.

— A ação do tempo e as intempéries fizeram com que os dizeres fossem afundando na terra. Já não dava para ler direito a frase e muitos guias turísticos estavam dizendo, equivocadamente, que o texto era “O tempo não para”(em referência à música de Cazuza). Chegaram a apelidá-la de “árvore Cazuza”. Nesse momento eu percebi que precisava recuperar a obra e mostrar a sua verdadeira identidade — conta Ribeiro.

Da descoberta à reinauguração, no dia 2 de setembro, foram três meses de trabalho, que contaram com o esforço de voluntários e da equipe de manutenção do PNT.

— A obra estava praticamente invisível, encoberta por plantas e raízes. Entrei em contato com a autora e decidimos reunir um grupo, com monitores, historiadores e gestores do parque, para restaurar esse patrimônio — explica o guia.

Primeiro, o grupo fez uma limpeza no local, tirando a terra e as folhas em decomposição que encobriam parte da obra, sempre respeitando a natureza e sem danificar as raízes. O segundo momento foi a etapa de cimentação, com mão de obra especializada.

— Tornar-me uma arqueóloga do meu próprio trabalho é instigante. Tem a ver com esse tempo, sempre presente. E saber que a obra pode ser novamente um ponto turístico está sendo muito gratificante — comemora Lia do Rio, bacharel pela Escola Nacional de Belas Artes da UFRJ com pós-graduação em Arte e Filosofia e em Filosofia Antiga.