Paixão em comum. Aficionados por jogos, Rodrigo Caldas (à esquerda), Thaciana Lima, Daniel Lustosa e Paulo Victor Miranda, todos moradores da Tijuca, fazem parte da equipe da Gazeus Games – Emily Almeida / Agência O Globo

Equipe conta experiências em empresa que desenvolve jogos casuais para mobile

Por Gabriel Oliveira para Jornal O Globo

A indústria dos games se tornou febre no Brasil no começo dos anos 1990, quando títulos como Super Mario Bros., Sonic, Mega Man e Street Fighter passaram a fazer a cabeça de crianças e jovens. Hoje, os games ultrapassaram a barreira dos consoles e computadores e estão cada vez mais presentes nos smartphones, um mercado que, de acordo com a empresa de análise especializada DigiCapital, deve movimentar US$ 170 bilhões em 2018. E é justamente nesse campo dos games para mobile que quatro moradores da Tijuca trabalham hoje, e as áreas de atuação são as mais diversas, do design e da programação à comunicação com o cliente.

Paulo Victor Miranda, Thaciana Lima, Rodrigo Caldas e Daniel Lustosa são funcionários da Gazeus Games, empresa sediada na Barra da Tijuca que desenvolve jogos casuais para smartphones e tablets. Além de morarem, todos, na Tijuca, os quatro têm em comum uma paixão de longa data pelo mundo dos jogos eletrônicos.

Formada em Ciência da Computação e moradora da região desde a infância, a programadora Thaciana Lima trabalha no desenvolvimento e na manutenção de features(funcionalidades dos games) para a plataforma iOS, sistema operacional do iPhone, e explica que sua entrada no mercado de games ocorreu de maneira circunstancial.

— Meu primeiro videogame foi um Super Nintendo, e na infância eu gastava horas jogando Mario, Donkey Kong e Street Fighter, que faziam muito sucesso. Alguns anos atrás, eu desenvolvia aplicativos para iOS, quando soube da vaga na Gazeus. Naquele momento eu decidi que seria interessante mudar para o ramo dos jogos mobile — frisa. — Aqui, eu trabalho com a criação das features, e cada detalhe nesse processo é fundamental para o resultado final do game.

Entre os jogos desenvolvidos por Thaciana está o Burraco, uma variação do jogo de cartas buraco. Na versão paga do game, ela destaca que uma das principais funcionalidades é o ranqueamento on-line, que permite aos jogadores competirem e verem o desempenho geral de cada um no jogo.

— A ideia é fazer com que cada vez mais usuários queiram participar desse ranking. Isso aumenta a vida útil do game, pois sempre terá alguém para você tentar superar — resume.

Rodrigo Caldas trabalha na Gazeus desde 2013, e sua atuação na empresa tem como principal foco o relacionamento com o cliente. Aficionado por franquias de sucesso das LucasArts nos anos 1990, como os jogos da série Monkey Island e Dave the Tentacle, ele explica que seu trabalho envolve se colocar na posição que ele mesmo ocupou por muito tempo: a do usuário final.

— Sou um fã de jogos de aventura em pixel art. Passei por várias gerações de console, desde o Atari, e quando entrei nesse mercado de games mobile precisei adaptar minha visão a um novo tipo de público — destaca. — Por serem jogos mais dinâmicos e simples, muitas pessoas que nunca jogaram um videogame de mesa na vida acabam baixando esses títulos para celular.

Caldas acrescenta que uma das maiores evoluções dos jogos foi a possibilidade de constantes atualizações para correção de erros e criação de novos conteúdos para aumentar a vida útil dos games. Ele avalia que mesmo após o lançamento, os títulos atuais nunca estão totalmente prontos, pois seu sucesso reside não apenas no número de downloads ou vendas, mas principalmente na quantidade de horas jogadas.

— Entender as necessidades do usuário final hoje é tão importante quanto entregar um bom jogo, pois a comunidade gosta de se sentir parte dos games. Quem dedica parte da sua vida a um jogo quer se sentir ouvido e ser recompensado por esse esforço, muitas vezes diário, seja desbloqueando conquistas para mostrar aos amigos que também jogam ou aparecendo num ranking on-line.

Um hobby que virou profissão

Designer e responsável pelas ilustrações dos cenários e personagens dos jogos da Gazeus, Daniel Lustosa é apaixonado por RPGs desde os 7 anos de idade, e já na adolescência uniu a paixão pela criação de personagens à aptidão para as ilustrações, ao se matricular num curso de desenho. Anos depois, formou-se em Design Gráfico e não demorou até que a entrada na indústria dos games acontecesse. Em 2010, Lustosa e um grupo de amigos fundaram a Critical Sudio, responsável por um dos games brasileiros de maior sucesso de crítica e público no mundo, o RPG Dungeonland.

— O Dungeonland foi lançado no começo de 2013 e repercutiu muito bem, sendo vendido para a publisher sueca Paradox. O jogo fez bastante sucesso no seu lançamento, principalmente na Europa, e foi muito bem recebido pela crítica. Foi esse trabalho que me abriu muitas portas no mundo dos games e que me permitiu estar aqui hoje — comenta.

Lustosa brinca que o dia no trabalho acaba funcionando para ele como uma grande diversão, especialmente por atuar exatamente numa área que ama desde a infância:

— Da mesma forma que o Neymar joga bola desde criança e hoje é pago para isso, eu transformei o que sempre foi minha maior diversão na minha profissão. Não tem nada melhor do que isso.

O publicitário Paulo Victor Miranda entrou no mundo dos games já na transição para os jogos 3D, com o Nintendo 64, onde nasceram clássicos como The Legend of Zelda: Ocarina of Time e o primeiro Super Smash Bros. Sua atuação como profissional do ramo, no entanto, é bem mais recente. Apaixonado por animes e pelo cardgame Magic: The Gathering, ele entrou para o ramo do design publicitário e da direção de arte, mas no setor de varejo. Miranda só começou a trabalhar com games há pouco mais de um ano, ao entrar para a Gazeus, executando ações de marketing de performance e aquisição de usuários.

— Aqui, faço as artes para os vídeos de campanha, e meu trabalho consiste em usar as ilustrações dos jogos para as nossas ações de marketing. Como eu lido com todas as campanhas no dia a dia, acabo interagindo com um pouco de tudo, pois preciso manter contato com vários setores da empresa — explica ele.

Miranda ressalta que a experiência de pouco mais de um ano na empresa é a mais diferente que já teve na carreira, principalmente na forma de se comunicar com um público que, segundo ele, tem uma série de peculiaridades.

— Vender uma TV é muito diferente de vender um jogo. Eu trabalho com algo muito mais lúdico, pois lido com a paixão do público e a minha própria paixão por games. Eu consigo me colocar no lugar do usuário e pensar: “Caramba, eu baixaria esse jogo”— enfatiza.