Desde 1969. O italiano La Camera está à frente da Sapataria Aguiar – Fotos de Maurício Peixoto

Eles estampam design e tipografia de décadas passadas

Por Maurício Peixoto para O Globo

Sinal de abandono, para uns, artigos com um certo charme, para outros, os letreiros antigos de acrílico e ferro se mantêm ao longo do tempo em alguns estabelecimentos comerciais da região. A maioria estampa curiosidades como os números de telefone ainda com 7 dígitos, a ortografia arcaica e a tipografia publicitária para serviços que caíram em desuso ou estão extintos.

Italiano da Calabria, Francesco La Camera, de 84 anos, está no Brasil desde 1953. Ele é o dono da Sapataria Aguiar – Vendas e Consêrtos (o acento circunflexo foi mantido), negócio que comanda desde 1969. Na Rua Aguiar 15, o letreiro, o mesmo desde que a casa abriu as portas, anuncia os serviços oferecidos, com destaque para o carro-chefe: o conserto de calçados antigos.

— Não acho que o meu letreiro seja ultrapassado ou antigo. Para mim ele é muito charmoso e acaba passando credibilidade ao meu comércio, que está aqui há mais de 50 anos — acredita Camera.

Cliente da sapataria há 20 anos, Ivana Carvalho, moradora da região, elogiou a loja.

— Aqui pela área é difícil achar esse serviço. Há outros sapateiros, mas não com essa qualidade — diz ela.

Aberto em 1975 na Rua Uruguai 440, loja C, o Bazar e Papelaria Uruguai se especializou na venda de material escolar e brinquedos, mas também oferece serviços como plastificações e cópias e é outro que mantém o letreiro antigo. Na placa é anunciado o serviço de revelação fotográfica com propaganda da extinta Kodak, que decretou falência em 2017. Agora, no lugar da revelação de filmes, são oferecidas cópias de imagens enviadas por dispositivos de armazenamento de memória e e-mails.

— Tivemos que nos reinventar. A revelação sempre foi um carro-chefe nosso. A tecnologia nos prejudicou um pouco, mas continuamos com a clientela — diz o atendente Carlos Alberto Carvalho.

Outros letreiros antigos interessantes na região são os da Gurilândia Lanches (Rua Conde de Bonfim 670), boteco comandado pelo português Joaquim Adelino, que abre todos os dias há 60 anos, e oferece um bolinho de bacalhau primoroso; o da Servilar Eletropeças, desde 1972 na Rua Conde de Bonfim 25B, especializado em objetos para o lar; o da Flora Nova Brasil, na Rua Haddock Lobo 332B, no local desde 1980; e o da Vidraçaria Afonso Pena, na esquina da Campos Sales com Haddock Lobo, que vende vidros, espelhos, quadros e molduras desde 1982.