Bugios foram reintroduzidos ao parque em 2015 por projeto em parceria com a UFRJ

Fonte por Maurício Peixoto

Desde agosto, um novo habitante da Floresta da Tijuca vem fazendo a alegria dos pesquisadores do projeto ReFauna Tijuca, uma parceria entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Parque Nacional da Tijuca, com o objetivo de reintroduzir a fauna nativa que se encontra em extinção no bioma. O motivo da comemoração é o nascimento, em agosto último, do primeiro filhote dos seis macacos bugios (Alouatta guariba clamitans) reintroduzidos por lá em 2015.

Segundo Ernesto Viveiros de Castro, chefe do Parque Nacional da Tijuca, o nascimento do filhote representa um sucesso para o projeto, que pretende restabelecer as interações ecológicas em uma floresta devastada ao longo da colonização e que, a partir de 1861, sofreu um grande processo de reflorestamento e regeneração natural, porém se tornou uma “floresta vazia”, isto é, sem a população animal de quando a mata ainda era intocada, principalmente no que se refere à população de mamíferos. O projeto começou em 2010, com a reintrodução de 31 cutias, hoje já na quarta geração na floresta. Outras espécies serão reintroduzidas em breve. Na lista estão: jabuti, arara-vermelha, pássaros trinca-ferro e mais alguns mamíferos.

— O projeto ainda está no início, mas o nascimento de um filhote de bugio é um sinal de que os animais estão se aclimatando bem no parque, conseguindo se alimentar (sem ação dos humanos), formando casais e se reproduzindo. É o primeiro passo para se estabelecer uma população a longo prazo — comemora Viveiros de Castro.

O nome da mãe do pequeno, que ainda não foi batizado, é Kala. Desde o ano passado, ela passou a ser vista regularmente no interior do parque ao lado de Juvenal, outro macaco reintroduzido.

Kala e o filhote estão sendo monitorados semanalmente pelos pesquisadores, por meio de colares e tornozeleiras. Dos seis animais soltos, quatro se adaptaram bem, mas dois precisaram ser recolhidos, porque vinham sendo alimentados pelos visitantes.

— Eles tinham constantes interações com os visitantes no parque, que acabavam por alimentá-los. Isso não é bom para o ciclo natural deles — explica Castro.

O bugio é uma espécie não avistada há pelo menos cem anos no Parque Nacional da Tijuca e é considerado vulnerável na lista de espécies ameaçadas no Brasil. Ele se alimenta de folhas e frutos, dispersando as sementes das árvores nativas e possibilitando a contínua regeneração da floresta. Outros macacos devem ser soltos no parque; entretanto, o surto de febre amarela este ano atrasou a soltura, embora não tenha sido registrado nenhum caso de contaminação de primatas no interior da unidade de conservação.