Mãe de Samuel recebe carinho da família e amigos Foto: Luiz Ackermann / Agência O Globo

A família, amigos e vizinhos do garçom Samuel Ferreira Coelho, de 24 anos, fizeram um protesto na Tijuca, na Zona Norte do Rio, na tarde deste domingo.

Fonte Marcela Sorosini / Jornal Extra

O ato contra a violência reuniu dezenas de pessoas em uma caminhada da Praça Xavier de Brito até o Bar do Pinto, onde o rapaz trabalhava e foi morto por uma bala perdida na noite do sábado, 27 de janeiro. A cerimônia foi silenciosa, em respeito à memória do rapaz. De acordo com a família, o protesto sem gritos e apitos era o mais adequado, porque o jovem não gostava de tumulto. A maioria dos participantes usou roupas claras e levou balões e rosas brancas para representar a paz.

Muito emocionada, mãe dele, Raimunda Maria da Conceição, de 63 anos, recebeu o carinho de amigos e vizinhos do bairro:

— Eu não gostava que ele trabalhasse em um bar, mas ele dizia que era o que conseguia. Eu não vou gritar por Justiça, porque nosso estado não tem Justiça, só existe a Justiça de Deus.

Segundo a costureira, o que aconteceu com o filho caçula é inexplicável:

— Ele não foi para a guerra para ser morto por uma bala de fuzil. Ele estava trabalhando no mesmo bairro onde cresceu. Foi aqui que andou de bicicleta e jogou futebol na infância. Eu estou chorando muito pela dor e saudade, mas tenho certeza do dever cumprido. Ele era um menino ótimo, meu verdadeiro amigo. Tantos jovens que não dão valor ao que recebem dos pais, e o meu filho trabalhava para me ajudar.

O grupo saiu da praça por volta das 14h50. Na porta do bar onde o jovem trabalhava e foi atingido, os participantes deixaram rosas brancas para homenagear a memória de Samuel e rezaram um Pai Nosso. No local, a mãe do rapaz agradeceu a Deus por ter tido um filho tão especial e pela honra de ter sido escolhida para ser mãe de Samuel.

— Obrigada Jesus, que o Senhor possa nos confortar — completou, antes de ser aplaudida por todos que estavam no local.

Também na Rua Conde de Bonfim, um grupo de moradores que acompanhava o ato arrumou as flores deixadas na porta do bar no formato de um corpo e escreveu a palavra paz no asfalto da rua, uma das principais da região. Além disso, os participantes fizeram um apitaço contra a violência e chegaram a fechar uma pista da via.

Presidente da Associação de Moradores do Grajaú (Amgra), Nice Carvalho, conta que o crime comoveu toda a cidade:

— A violência é inacreditável. Não conseguimos mais sair na rua.

Morador da Tijuca, Leandro Almeida, de 24 anos, reclamou que a região não tem uma associação de moradores:

— Não temos um link com o poder público. A Tijuca é um bairro populoso, mas sem segurança. Os furtos e assaltos fazem parte da nossa rotina.

O garçom foi enterrado no início da tarde da última segunda-feira, no Cemitério do Catumbi, na Zona Norte da cidade. A missa de sétimo dia será nesta segunda-feira, às 19h, na Paróquia São Domingos de Gusmão, na Tijuca.

O crime

Samuel trabalhou por quatro anos como garçom no Bar do Momo, tradicional estabelecimento na Tijuca, situado na mesma rua onde ele vivia com a mãe. Nos últimos 15 dias antes de ser atingido pela bala perdida, o rapaz estava cobrindo férias de um outro funcionário, dessa vez no Bar do Pinto, no mesmo bairro.

Quando o tiroteio entre policiais e bandidos começou, os clientes e empregados do bar deitaram no chão e, por isso, conseguiram escapar ilesos. Apenas Samuel, que estava na porta do estabelecimento, acabou atingido no peito assim que o confronto começou.

Outras três pessoas ficaram feridas no tiroteio — dois policiais militares e a passageira de um carro que atuava como Uber. No momento do confronto, a região estava cheia por conta do desfile do bloco “Nem muda, nem sai de cima”.

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