Com a chuva desta quinta-feira, o Rio Joana transbordou e inundou ruas – Fotoarena / Agência O Globo

Excesso de lixo em vias e rios, paralisação das obras do Rio Joana e falta de limpeza da rede pluvial são apontados como causas dos problemas

Fonte por O Globo

Rua alagadas, rios transbordando, engarrafamentos, mortes. As consequências do temporal poderiam ter sido evitadas, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, não fosse a omissão das autoridades. A falta de limpeza de rios e das galerias pluviais da cidade é a falha mais apontada. Ressaltaram ainda que é urgente que se faça a manutenção frequente dos piscinões da Grande Tijuca e que sejam concluídas as obras do desvio do Rio Joana, que vai ajudar a escoar a água da chuva que cai na região do Maracanã para a Baía de Guanabara.

Representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ) e do Clube de Engenharia, Manoel Lapa disse que o transbordamento do Rio Joana durante as tempestades favorece as enchentes, mas o problema não é só este. Segundo o especialista, a falta de saneamento e drenagem agrava ainda mais os efeitos das chuvas:

— O problema de saneamento prejudica a Região Metropolitana. Não existe uma rede que seja aceitável no Rio e em cidades da Baixada, por exemplo. Nas áreas mais pobres, como na Zona Oeste, também não há um sistema adequado. O lixo é um dos gargalos há anos. Faz-se o recolhimento em determinadas regiões, mas em comunidades, não. É importante que se tenha um plano de ação atualizado. A chuva está cada vez mais forte, e a quantidade de lixo, aumentando. É preciso dragar os rios e mantê-los limpos.

O presidente da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio, Haroldo Mattos de Lemos, concorda com Lapa e chama a atenção para o comportamento da população.

— Houve uma combinação trágica que foi o fim do carnaval com a chuvarada. Esses dois momentos não deveriam estar juntos, a menos que estivéssemos preparados, mas não estamos. A população não está suficientemente bem educada, diante da quantidade de lixo largado nas ruas, que entope bueiros e rios e favorece as inundações. A prefeitura, por sua vez, deveria organizar melhor a limpeza das galerias meses antes do verão e durante a estação, época de chuvas fortes.

Piscinões com dificuldades

Para o engenheiro civil e professor do Departamento de Hidrologia da Coppe/UFRJ, Paulo Canedo, um conjunto de problemas provoca os transtornos: o excesso de lixo nas ruas, a falta de manutenção do sistema de drenagem e a não conclusão do desvio do curso do Rio Joana.

— Essa obra no Maracanã é, para mim, a principal. Foi bem planejada, mas não foi executada 100%. O túnel de desvio é inútil porque não está levando água a lugar algum.

Outra falha, acrescenta o especialista, é a baixa frequência da limpeza dos bueiros da cidade, “aquém do necessário”, afirma. Já os três piscinões da Grande Tijuca — que recebem água da chuva —, avalia Canedo, estão operando com dificuldade.

— Após as chuvas, os piscinões são esvaziados por bombeamento. Em seguida, deve-se fazer um processo de remoção de detritos que normalmente são carregados pelas águas. Diante dos alagamentos na região nesta madrugada, constata-se que esse processo não está sendo executado — disse Canedo.

A prefeitura, contudo, informou que os três reservatórios “operaram de maneira satisfatória”. Quanto à obra do Rio João, ela será retomada “assim que o Tesouro Municipal for reaberto”.