Instituições acompanham a evolução da ‘geração z’

Fonte por Maurício Peixoto e Rodolfo Mageste para Jornal O Globo

A tecnologia avançou no cotidiano da sociedade de forma avassaladora nos últimos 20 anos, principalmente após o surgimento da internet. Para a chamada “geração z” (pessoas que nasceram entre a década de 1990 e o ano de 2010), nada mais comum que o ensino nas escolas acompanhasse essa evolução. Na Grande Tijuca, as unidades se esforçam para oferecer aos alunos bases do conhecimento tecnológico para o futuro.

— Eles passam boa parte do tempo no mundo virtual. Agora, podem utilizar isso a favor do próprio aprendizado — comenta Luis Felipe Abad, diretor do Colégio pH.

A unidade, na Rua Professor Gabizo, começou a investir este ano em um curso extracurricular experimental chamado “Creative coding: desenvolvimento de apps para celular”, que, como o próprio nome diz, ensina a desenvolver aplicativos para o telefone.

As aulas são sempre às sextas-feiras, das 13h30m às 15h30m, com 15 alunos voluntários do 9º ano do ensino fundamental e do 1º ano do ensino médio, sob responsabilidade do professor André Fonseca. Não há provas, apenas atividades.

— O curso tem como objetivo oferecer uma introdução à programação de computadores, em geral, e de celulares, em particular. Os jovens já vivem intensamente o mundo virtual na condição de consumidores de softwares desenvolvidos por outras pessoas. Aprender a programar dá a eles a possibilidade de contribuir de forma ativa para a sociedade em vivem — explica Fonseca.

O professor explica que as aulas servem ainda como reforço no aprendizado de outras disciplinas.

— Aprender a programar também ajuda no desenvolvimento do pensamento computacional. Isso é bastante útil para a resolução de problemas relacionados a outras disciplinas estudadas na escola, além de situações cotidianas da vida dos alunos — afirma Fonseca.

O professor conta que a idade dos estudantes, entre 14 e 15 anos, é a melhor para o estudo de programações.

— Existe um momento ideal para que um jovem aprenda programação de computadores, do mesmo jeito que há uma idade certa para que uma pessoa se alfabetize em Língua Portuguesa — comenta Fonseca, lembrando que o ensino da matéria tem crescido em todo mundo.

A coordenadora pedagógica da unidade Tijuca do pH, Maria Inah Amaral Motta, diz que o curso foi um sucesso e que deve ser expandido.

— Pretendemos continuar no ano que vem, além de levá-lo para outras filiais do colégio. O interesse dos alunos tem aumentado. Em 2017, a procura pela aula deve crescer — diz Maria Inah.

Pedro Ferreira Dusek, de 15 anos, aluno do 1º ano do ensino médio, matriculou-se no curso e conta como funcionam as atividades.

— Estamos trabalhando em vários aplicativos, que devemos apresentar no fim do ano. O objetivo é desenvolver algo que faça a diferença na cidade do Rio. Por exemplo, pensamos em um em que a pessoa possa tirar a foto de algum problema na rua, como um vazamento de esgoto, e tenha a possibilidade de enviá-la diretamente para um órgão público — detalha o jovem.

No colégio Oga Mitá, que fica na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca, a direção implantou na grade curricular, no começo do ano passado, aulas de programação digital e de robótica, voltadas para alunos do 7º ao 9º ano do ensino fundamental. Os estudantes programam os próprios jogos tanto em computadores como em telefones celulares. Há previsão de que as disciplinas sejam também oferecidas aos alunos do ensino médio a partir do ano que vem.

De acordo com Cristiane Lima, professora das disciplinas, os alunos, além de aprenderem sobre o uso da tecnologia no mundo digital, acabam lapidando os conhecimentos em matérias tradicionais como Matemática e Física.

— Para aprender programação e robótica é necessário que os alunos dominem ou tenham noções de cálculo, gravidade e mecânica — explica Cristiane, acrescentando que os estudantes estão engajados na nova aprendizagem.

Segundo ela, é possível perceber que, depois da implantação das disciplinas no colégio, os estudantes cresceram em Física e Matemática. E, apesar de estarem interligadas com as matérias tradicionais, elas têm notas próprias.

Parcerias que fazem sucesso

Apostando no ensino de tecnologias digitais, o instituto Oi Futuro criou em 2006 o Núcleo Avançado em Educação, o Nave, que completa dez anos. No Rio, o programa é desenvolvido no Colégio Estadual José Leite Lopes, na Tijuca, onde estão matriculados cerca de 600 alunos. A Escola Técnica Estadual Cícero Dias, em Recife (PE), também participa do projeto.

O projeto tem como foco o ensino médio profissionalizante e é desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais do Rio e de Pernambuco.

— O Nave forma jovens para as economias digital e criativa, com prioridade na produção de games, de aplicativos e de produtos audiovisuais — diz Mariana Christovam, coordenadora nacional do programa.

Ela destaca o caráter profissionalizante do Nave:

— O diferencial do núcleo é que, além de obter formação técnica, os estudantes são incentivados a desenvolver o espírito empreendedor. Eles estabelecem ainda suas primeiras conexões profissionais por meio de projetos e eventos de integração com o mercado de inovação.

Por seu empreendedorismo, em 2013 a Microsoft reconheceu as duas unidades do Nave entre as escolas mais inovadoras do mundo. Além disso, a unidade da Tijuca é destaque há sete anos no Programa Escolas Inovadoras, também da empresa de Bill Gates. O núcleo faz parte ainda do Microsoft World Tour, grupo de intercâmbio composto por 33 escolas.

Também em parceria com a rede pública, a B2W Digital e a ONG Recode (antigo Comitê para a Democratização da Informática) desenvolveram para os colégios estaduais a plataforma TecEscola, que auxilia professores e alunos na aplicação de conteúdos.

O Colégio Estadual Chico Anysio, no Andaraí, é um dos que participam do programa. Lá, a professora de Matemática do 1º ano do ensino médio, Simoni Dina, utiliza a plataforma para ensinar temas como função e trigonometria.

— A ferramenta possibilita o uso de vários recursos, valendo-se de técnicas de ensino híbrido (união do presencial com o virtual), como quizz ou sala de aula invertida (quando o aluno acessa o conteúdo primeiro na plataforma e depois assiste à classe em sala) — explica Simoni.

No estado do Rio, cerca de 150 professores participam do programa, que atinge 15 mil alunos. Desde o início do projeto, em 2015, eles cumprem uma extensa carga horária de formação para aprenderem modernas estratégias pedagógicas digitais.

Espaço para fomentar a criação

Inaugurado há um mês na escola Sesi Maracanã, o Espaço Maker é um laboratório de experimento em que a criatividade dos alunos do ensino médio profissionalizante impera. Lá, os jovens dos cursos de Comunicação Visual, Programação de Jogos Digitais, Tecnologia da Informação e Multimídia são estimulados a explorarem ferramentas manuais e tecnológicas para desenvolver projetos, pesquisas e protótipos.

— É um ambiente de constante inovação criado para fomentar a autonomia e o pensamento crítico dos estudantes. Temos participado de fóruns, palestras e eventos e percebemos que essa é uma nova tendência no mundo educacional. É o que nós chamamos de “método mão na massa” — pontua a diretora da escola, Rosa Nunes.

Um exemplo de inovação são os óculos para cegos que os alunos do 2º ano do curso de Comunicação Visual estão desenvolvendo e que funcionam através de sensores. O trabalho é coordenado pelo professor de Física Eduardo Aguiar.

— Estamos em fase de construção ainda, mas o circuito já está funcionando. Agora a ideia é partir para a aplicação e o acabamento dele, levando-o para a impressora 3D. O objetivo principal é solucionar problemas do dia a dia, além de permitir que todos possam colaborar com o projeto — conta Aguiar.

O professor fala da importância do “método mão na massa” no curso de Comunicação Visual.

— No momento, os alunos estão estudando a parte teórica da Física, que tem a ver com ondas e frequências, e que são os conceitos básicos para se fazer, na prática, os óculos sensoriais — diz ele.

Para o estudante Hugo dos Reis, um dos que tiveram a ideia de criar os óculos, o futuro das escolas, técnicas ou não, é investir em tecnologia na prática.

— Só ficar estudando, lendo e escrevendo é parte do passado. Sem dúvida, esse é e sempre será o pilar do ensino. Mas criar toda essa tecnologia com certeza vai nos deixar maduros e nos preparará melhor para o mercado de trabalho — acredita Reis.

Também coordenados pelo professor Aguiar, alunos do 2º ano do curso de Programação de Jogos Digitais estão produzindo braços robóticos para serem utilizados em esforços repetitivos tanto para trabalhos industriais e comerciais, quanto para afazeres domésticos.

— De dois em dois meses, eles produzem novos tipos de robôs — conta.

Rosa Nunes diz que pretende ampliar o funcionamento do Espaço Maker. E avisa que será contratada uma pessoa ligada à mecatrônica.

— A ideia é que ela fique aqui direto e possa atender não só ao ensino fundamental, mas a todos os alunos do Sesi/Senai — diz a diretora.

Veja essa e outras matérias no Caderno Grande do NaTijuca.com