Espetáculo aborda a vida de esposa com marido em tratamento de leucemia – Rodrigo Menezes

Solo de Flávia Lopes mescla sua história com a de outras mulheres que frequentaram o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) no auge da crise

O SESC Tijuca recebe de 03 a 19 de agosto, de sexta a domingo sempre às 19h, a temporada de estreia do solo “Em Uma Manhã de Sol”, com dramaturgia e atuação de Flávia Lopes e direção de Eduardo Vaccari.

Com uma narrativa na terceira pessoa, o drama é inspirado em uma compilação de crônicas escritas pela atriz Flávia Lopes, desde o diagnóstico de leucemia do marido, em outubro de 2016, passando pela internação às pressas no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), local que frequentou por sete meses como acompanhante, até o transplante de medula óssea 50% compatível, ocorrido um ano depois da descoberta da doença.

Buscando formas de se conectar com o mundo fora do hospital e tentando sobreviver em um ambiente muitas vezes árido, Flávia passou a postar textos autorais em seu facebook onde, por meio de uma escrita poética e humanizada, falava sobre a fragilidade da vida no risco iminente da morte. Aos poucos, com a repercussão de suas publicações, a artista ampliou sua fala e mesclou aos seus contos histórias de outras mulheres presentes naquela unidade de saúde, formando um coro feminino em uníssono: mães, esposas, pacientes, enfermeiras, técnicas em enfermagem, cuidadoras, psicólogas e médicas. Um solo narrativo polifônico que nasce no momento em que a história de Flávia e do marido ultrapassa o nível individual e torna visível a decadência da saúde pública no nível social, sobretudo a do HUPE, onde, na época, com a falta de repasse de verba do Governo do Estado, os funcionários trabalhavam em condições precárias e sem receber os salários por mais de três meses.

“No meio de uma guerra pessoal, que era a doença do meu marido, vivia uma guerra social, o corpo hospitalar do Hospital Universitário Pedro Ernesto e UERJ, que também seguiam doentes. Senti vontade de falar da vida dentro daquele hospital público, para tornar visível o que parece invisível. Com o tempo e o alcance das publicações, muitas pessoas me falavam para fazer algo com essas histórias que eu escrevi. Eu só podia imaginar o teatro para dar voz e corpo a elas”, destaca Flávia, que pela primeira vez estará sozinha em cena.

Uma médica que precisa escolher qual entre dois pacientes com risco de morte receberia a única bolsa de sangue daquele dia; uma enfermeira – sem salário – que abrigou em sua casa uma paciente de outra cidade que não tinha condições de custear a viagem de ida e volta ao hospital para dar continuidade ao tratamento; uma enfermeira – também sem salário – que comprou por conta própria uma pomada anestésica e um esparadrapo antialérgico para um paciente; são algumas das histórias tocantes e cheias de compaixão, que atravessam a história de Flávia, contadas na terceira pessoa pela personagem “Ela”, uma narradora afetiva que conhece intimamente as situações vividas naquele hospital.

O mergulho na memória e nos textos escritos pela atriz Flávia Lopes são ferramentas para o diretor Eduardo Vaccari encontrar a ludicidade e a musicalidade do espetáculo que nasce do corpo, das palavras, dos silêncios e das imagens criadas no espaço.

“Mesmo tendo escrito diversas histórias e, portanto, já existindo um grande material dramatúrgico, achei que meu olhar deveria estar voltado para a Flávia. Para seu corpo em ação. Para recolocar seus afetos em movimento. Para reativar na atriz suas sensações, imagens e metáforas. Em todo momento eu estava muito mais interessado em ‘como aquela situação a afetou, a tocou’ do que em ‘como aquela situação aconteceu’. A poesia, a imaginação e a afetividade guiariam todas as nossas escolhas cênicas.”, explica Vaccari

O cenário, de Carlos Alberto Nunes, é composto por uma grande caixa de areia que surge como elemento simbólico do tempo, que escorre pelas mãos, que se transforma de acordo com o seu manusear ou até mesmo como um grão de areia no universo. A trilha sonora autoral, criada em coletivo e dirigida por Karina Neves e Bruno Danton, remete ao som do ambiente hospitalar.

 

 

SERVIÇO

“EM UMA MANHÃ DE SOL”

Temporada: 03/08 a 19/08 de 2018
Dia\Hora: de sexta a domingo, sempre às 19h
Local: SESC Tijuca (Teatro II)
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca
Valor: R$30(inteira)\R$15(meia)\R$7,50 comerciários
Telefone: 3238-2139
Duração: 60 minutos
Capacidade: 50 lugares
Classificação: 14 anos
FICHA TÉCNICA
Gênero: drama

Direção: Eduardo Vaccari
Atuação: Flávia Lopes
Dramaturgia: Flávia Lopes
Colaboração dramatúrgica: Aline Macedo e Eduardo Vaccari
Pesquisa e Organização dramatúrgica: Aline Marosa e Flávia Lopes
Direção Musical: Karina Neves e Bruno Danton
Cenógrafo e Figurinista: Carlos Alberto Nunes
Cenógrafa e figurinista assistente: Arlete Rua
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Visagismo: Mona Magalhães
Preparação Vocal: Paula Santoro
Instrutora de Yoga: Nina Krieger
Assessoria de imprensa: Lyvia Rodrigues (Aquela que Divulga)
Design gráfico: Guilherme Fernandes
Fotos: Rodrigo Menezes
Produção: Pagu Produções Culturais