Nova favela cresce na Tijuca – Foto: Foto de leitor / Agência O Globo

Vizinhos de maciço desmatado para ocupações irregulares temem avanço do tráfico e se queixam de omissão da prefeitura

Por Dayana Resende para O Globo

O visível crescimento de uma pequena comunidade, incrustada numa área de Preservação Ambiental, no Maciço da Tijuca, tem tirado o sono de quem vive no entorno. Vizinhos da favela estão se munindo de fotos e vídeos, feitos com a ajuda de um drone, que mostram pessoas construindo “puxadinhos”, o que está proibido desde 2011, quando a Justiça deferiu uma liminar que garantia a permanência dos imóveis, mas impedia novas construções na região. No entanto, sem fiscalização, o desmatamento avança.

— São áreas de preservação ambiental. O grande problema é que a prefeitura parou de fazer o monitoramento e está fechando os olhos para o crescimento da comunidade — reclamou uma moradora, que pediu para não ser identificada.

O ponto que se destaca na paisagem fica entre três favelas: Trapicheiros, Coreia e Salgueiro. Os moradores temem que a expansão desordenada provoque a formação de uma “superfavela”, que poderia ser usada como esconderijo de traficantes:

— Hoje, não há tráfico de drogas no local, mas nosso medo é que essa área se torne rota de fuga de bandidos do Salgueiro, como já ocorre com as outras favelas. Ou que instalem pontos de vendas de drogas — diz outro morador.

Com a ajuda de um drone, foi possível constatar que no trecho entre a Rua Monsehor Batistoni, em frente à favela da Coreia, “não param de surgir novas construções”. Numa das imagens, um homem é flagrado erguendo o segundo andar de uma casa. Para abrir espaço na floresta, segundo o grupo, os moradores ateiam fogo e desmatam a área:

— No vídeo, da para ver os clarões para dar lugar a novas construções. Os barracos ficam escondidos pela mata de dia, mas à noite são revelados pelas luzes acesas. No Trapicheiros, há material de construção exposto, e o levantamento de uma parede indica a expansão. — contou uma testemunha.

O problema que cresce agora tem origem mais antiga. As primeiras casas começaram a aparecer há quatro décadas. O processo de favelização é mais recente, com cerca de 20 anos.

Crescimento frenético

Em 2011, a prefeitura chegou a fazer algumas operações tímidas na região, demolindo duas construções — uma oficina mecânica e uma garagem vazia — erguidas no maciço. Na ocasião, moradores que já se sentiam ameaçados recorreram à Justiça contra o município, ganhando a causa em segunda instância. A ação observou a questão do direito à habitação e incumbiu a prefeitura de conter as irregularidades, sem negligenciar a questão.

Por meio de nota, a Subsecretaria de Habitação informou que vai mandar uma equipe até o local “para vistoriar e averiguar a denúncia”. A prefeitura afirmou, no entanto, que não há data para que esse trabalho seja feito, pois “existe uma programação a ser seguida pelos técnicos”.

Em agosto, O GLOBO mostrou o crescimento frenético das favelas cariocas. De acordo com Instituto Pereira Passos (IPP), de 2016 para 2017, a expansão foi de 333.064 metros quadrados, área equivalente ao território do Morro do Borel, na Tijuca. O Parque Nova Cidade de Acari foi a comunidade que mais aumentou nesse período, ganhando 28 mil metros quadrados, ou seja, quatro vezes e meio seu tamanho.

O estudo revelou ainda que as áreas favelizadas chegaram a encolher entre 2008 e 2012, mas, em 2013, o processo se inverteu. O ápice da expansão desordenada foi no ano passado: 0,72%.