História. Prédio já sediou escola para crianças libertas após Lei do Ventre Livre e, atualmente, é colégio estadual – Foto: Fabiano Rocha/31-10-2016 / Agência O Globo

Escola que, há 100 anos já apostava na inclusão, tem sua importância reconhecida

Por Madson Gama para O Globo

A instituição nasceu em Vila Isabel como uma escola pública voltada para a inclusão. Agora, mais de 100 anos depois de sua criação, vai ter sua importância reconhecida. O Colégio Estadual João Alfredo — aberto em 1875 por Dom Pedro II, com o nome de Asilo dos Meninos Desvalidos, para educar crianças libertas após a Lei do Ventre Livre — poderá ser tombado como patrimônio histórico e cultural do estado do Rio. O projeto de lei, como noticiou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, foi aprovado na última terça-feira em segunda discussão e, agora, aguarda apenas a sanção do governador Luiz Fernando Pezão.

Com a medida, fica proibida qualquer mudança nas características originais do edifício, como fachada e telhados. Mas, para o autor da lei, deputado Waldeck Carneiro (PT), mais importante do que preservar a arquitetura do imóvel é lembrar seu pioneirismo na capacitação profissionalizante de jovens.

— A escola deu origem ao processo de educação profissional no Brasil. A vocação dela sempre foi acolher meninos desprovidos para dar a eles a possibilidade de iniciação em um ofício — explicou Waldeck.

Antes de se tornar o atual João Alfredo, a escola era um espaço destinado apenas a estudantes do sexo masculino . O Asilo dos Meninos Desvalidos surgiu quatro anos após a Lei do Ventre Livre, que tornava livres todos os filhos de escravas nascidos a partir de 28 de setembro de 1871, e abrigava os libertos. À época, a instituição oferecia aulas de matemática, artes e música, além de cursos de encadernador, alfaiate, marceneiro, torneiro, entalhador e funileiro.

Para a diretora do João Alfredo, Grace Campello, o modelo era inovador:

— Para a nossa comunidade, é um reconhecimento muito importante. O prédio foi sempre uma escola pública voltada à inclusão. Os filhos dos escravos nasciam libertos, mas não tinham acesso à educação e nem aprendiam uma profissão. Então, ela ajudava esses meninos a garantir seu sustento, ensinando atividades como a de serralheiro.

Atualmente, o Colégio Estadual João Alfredo abriga o Ensino Médio, com o curso técnico em administração como complemento. O turno da noite é destinado à modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).