Celebração do Círio de Nazaré nas ruas da Tijuca contou com a presença do bispo Dom Orani Tempesta


Fonte por Patrícia de Paula para O Globo

“Uma esperança em meio a tanta violência, maldade e problemas na cidade. E uma mostra de que o coração do carioca tem muita coisa para oferecer, com uma capacidade infinita de amar o próximo e fazer o bem”. Assim o cardeal-arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, definiu a importância de uma manifestação como o Círio de Nazaré, realizado na manhã deste domingo, pela Basílica de São Sebastião, (Igreja dos Capuchinhos), que levou cerca de dez mil pessoas à Tijuca.

A tradicional procissão que acontece em Belém do Pará também faz parte do calendário religioso da cidade devido ao grande número de paraenses moradores do Rio. Como a dona de casa Vera Lúcia Couto, de 62 anos, que saiu com toda a família de São Gonçalo para prestar homenagens à santa de sua devoção.

— O paraense já nasce devoto de Nossa Senhora de Nazaré. Estar aqui é uma forma de matar a saudade da nossa terra e mostrar a nossa dedicação e fé — diz ela, que mora no Rio há 33 anos.

Também paraense, a aposentada Antonia Costa, de 61 anos, chegou cedo à Rua Haddock Lobo, com o marido Luiz Carlos Xavier. Tudo para garantir o seu lugar na disputada corda que é conduzida pelos fiéis durante a procissão. Precavida, levou água, protetor solar, boné e, o principal, a imagem da santa, que carregou durante todo o trajeto.

— Tive uma graça alcançada e vim para agradecer. Minha sobrinha de 19 anos ficou curada de uma doença que a mantinha com remédios tarja preta. Pedi com muita fé e fui atendida. Hoje ela está uma moça saudável — lembra ela, emocionada.

Mas não apenas os paraenses renderam homenagens à santa. Muitos cariocas católicos que adotaram Nossa Senhora de Nazaré no coração também participaram da procissão. Foi assim com o casal Dionísio da Silva Paredes, de 35 anos, e Luciana Aparecida, de 43. Casados há sete anos, eles passaram por muitas tentativas frustradas de engravidarem.

— Já havíamos ido a Belém a passeio, mas no ano passado eu fui com o propósito de participar do Círio de Nazaré. Lá eu pedi que Nossa Senhora me permitisse conceber nossa filha. Dois meses depois eu estava grávida — lembra Luciana, com os olhos marejados.

Durante a procissão, quando a imagem passou em frente ao casal, Dionísio apresentou à santa a pequena Brícia Helena, de apenas dois meses, que dormia tranquilamente. “Olha, filha, essa é Nossa Senhora de Nazaré, que vai te proteger sempre com o seu manto sagrado”, sussurava no ouvido da pequena, emocionado.

A procissão durou cerca de uma hora, seguindo pelas ruas Doutor Satamini, Afonso Pena e retornando para a basílica na Haddock Lobo. Depois os fiéis presenciaram a missa celebrada por Dom Orani. O religioso exaltou a necessidade da população reforçar a fé, mesmo em tempos difíceis.

— A situação de violência do Rio de Janeiro não é de hoje. Mas não podemos nos acostumar com isso e estar sempre lutando pelo bem. Mais do que divulgar o mal que fazem, precisamos divulgar o bem que existe para ver se o bem contagia o nosso povo e dá um pouquinho de esperança e confiança para todos — disse.