Prefeitura afirma que está priorizando as ações que garantam a segurança dos moradores

Fonte por Maurício Peixoto para Jornal O Globo

Sujeira, proliferação de pombos, poças acumuladas, população de rua. Chafarizes, fontes e ornamentos de valor arquitetônico em praças da Grande Tijuca estão abandonados. A maioria está há meses desativada, à espera de um contrato de manutenção para voltar a funcionar. De acordo com a Secretaria de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma), o novo contrato está em análise na Procuradoria Geral do Município para, em seguida, ir a processo licitatório. Ainda segundo a pasta, “se tudo correr bem” entra em vigor dentro de 90 a 120 dias. Enquanto isso, as praças continuam sem charme e sem vida e seus chafarizes são um retrato do descaso.

Há quatro chafarizes na região: o da Praça Afonso Viseu, no Alto da Boa Vista; o das praças Comandante Xavier de Brito e Saens Peña, na Tijuca; e o da Praça Condessa Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Todos (exceto o da Saens Peña) são de ferro fundido e tombados pelo patrimônio histórico, devido ao seu valor arquitetônico, tendo sido produzidos pela fundição francesa Val D’Osne, responsável pela feitura dos principais chafarizes da cidade. Todos estão há meses desligados, tendo o seu contrato vencido em setembro do ano passado. De acordo com a Seconserma, eles foram sendo desligados à medida em que necessitavam de “manutenção contínua”.

Segundo o secretário Rubens Teixeira, a prefeitura tem outras prioridades no momento:

— Devido à dívida herdada de quase R$ 4 bilhões e à queda de arrecadação da prefeitura, a Seconserma está priorizando as ações que garantam a segurança e a funcionalidade da cidade, embora reconheçamos a importância de fazermos a manutenção de monumentos e chafarizes, cujos contratos encontram-se em fase de licitação, e estarão em funcionamento tão logo esse processo esteja concluído e as contas do município, equilibradas.

Enquanto isso, segundo a secretaria, “manutenções pontuais vêm sendo feitas, na medida do possível”, utilizando mão de obra da própria Seconserma. Entre os serviços, limpeza e esvaziamento de poças e água acumulada, para evitar a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chinkungunya.

O chafariz da Praça Xavier de Brito, no local desde 1963, apresenta bacias sobrepostas e vários ornatos como carrancas e crianças segurando cântaros, golfinhos e outros elementos do reino do mar. A equipe do GLOBO-Tijuca esteve no local na semana passada e encontrou muito lixo, além de várias poças. De acordo com frequentadores, há pelo menos quatro meses o chafariz está desligado.

— O problema é chover e a água ficar acumulada nessas bacias sobrepostas. O chafariz parado é muito ruim para a praça. Parece que falta algo, não é o mesmo passeio — queixa-se João da Costa, bombeiro aposentado que costuma frequentar o local.

Segundo a Seconserma, o chafariz acima citado está na programação para ser limpo.

Uma das situações mais preocupantes é a do lago artificial da Praça Saens Peña. Mesmo com as bombas desligadas, ainda cai muita água no local, devido a um registro antigo, descoberto pela população de rua da praça, que o utiliza para tomar banho e limpar roupas. O lago da Saens Peña foi criado em 1947, pelo paisagista e arquiteto Azevedo Neto. Segundo frequentadores, está em desuso há cinco meses.

— A praça está abandonada, como há muito tempo não se via — critica o aposentado Luiz Augusto Santos.

Segundo a Seconserma, o registro da Praça Saens Peña é antigo, usado pela população de rua há muitos anos e precisa de troca, o que só deve acontecer quando o novo contrato estiver em vigor. A Seconserma acrescentou ainda que o serviço de limpeza já está programado.

Prefeito prometeu nova bomba

Um vídeo postado, no dia 13 de julho, na página do Facebook “Rio Comprido Alerta”, mostra o prefeito Marcelo Crivella prometendo uma nova bomba para o chafariz do bairro, em visita à localidade no mês de maio.

“Estamos trazendo uma bomba nova para o chafariz do Rio Comprido, para depois de cinco anos ele voltar a funcionar”, disse Crivella.

Segundo um dos criadores da página, que preferiu não se identificar, os moradores cobraram uma resposta à prefeitura após a promessa.

— Pegamos o vídeo da rede social do prefeito, no qual ele faz a promessa. Primeiramente, esse chafariz está há cerca de um ano sem funcionar, e não há cinco, como ele disse. Ele afirmou que, inclusive, já tinha sido até encomendado. Procuramos a Seconserma, mas eles não nos responderam. Então decidimos mostrar o vídeo. Esse chafariz é um dos símbolos do nosso bairro, não pode ficar tanto tempo desligado — acredita o internauta.

O chafariz do Rio Comprido chegou à praça em 1977, tendo ocupado, anteriormente, a Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel. Composto pelas esculturas de tristão e duas sereias apoiando uma bacia, exibe uma criança em seu topo, de onde jorra a água que vai para o seu entorno. Está seco e limpo, não oferecendo riscos de proliferação do mosquito transmissor da dengue.

Projetado por Grandjean de Montigny e criado em 1846, o chafariz da Praça Afonso Vizeu, no Alto da Boa Vista, está desligado há três meses. Inicialmente instalado na Praça Onze, foi retirado do local durante a abertura da Avenida Presidente Vargas, e transferido em 1945 para a pracinha do Alto.

— É para ficar preocupado mesmo. Ainda bem que já trago repelente normalmente, pois aqui tem muito mosquito e água parada — afirma Suzane Duarte.

Segundo a Seconserma, no local não há risco de proliferação de Aedes aegypti, pois “a água desce das fontes e está constantemente se renovando”, entrando por uma tubulação e saindo por um cano extravasor.

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