O número de furtos registrados até julho de 2019 na região da 20ª DP – que cobre áreas como Vila Isabel, Andaraí e Grajaú, na Zona Norte do Rio – foi o maior desde 2003, quando a começou a série histórica.

Por Alice Cravo para o Extra

Os dados são referente a furtos rubricados como “outros”, ou seja, exclui os de veículos, celulares, pedestre, ônibus e bicicletas. Segundo os números do ISP (Instituto de Segurança Pública), em 2018 houve 1.015 registros com esse perfil.

Até julho de 2019, esse número cresceu para 1.262. Comparando os períodos de janeiro a julho dos dois anos, o aumento foi de 123,7%.

De acordo com o delegado titular da 20ª DP, Deoclécio de Assis, os furtos na região miram materiais que podem ser vendidos no ferro velho, como tampas de bueiro, portões de alumínio, fios de telefonia, sinais de trânsito, chuveiro etc. A suspeita é de que os crimes sejam praticados por moradores de rua usuários de drogas.

— A delegacia faz um trabalho conjunto com a Comlurb, Polícia Militar e a Secretaria Municipal de Assistência Social para identificar as pessoas que são responsáveis por esses furtos, realizar a limpeza das ruas pela sujeira deixada por eles, como lixo revirado e tralhas abandonadas — ressalta o delegado. — As operações policiais são feitas constantemente, mas elas por si só não são totalmente efetivas. Eles não praticam crimes de violência e grande ameaça. Muitas vezes o retorno pra rua ocorre logo após a prisão pela polícia.

Há cerca de de um mês, a vila onde João (nome fictício) mora há dois anos, na Rua Dona Maria, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, teve as portas de alumínio dos quatro hidrômetros furtadas durante a noite. Segundo o morador, o primeiro furto, quando três das quatro portas foram levadas, ocorreu em uma madrugada de quarta-feira. Na sexta, os ladrões voltaram para levar a última porta. A câmera de segurança de um prédio vizinho flagrou a ação.

Vila teve as quatro portas de alumínios dos hidrômeros furtados no último mês Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo

— Colocamos serpentinas em todos os portões da vila e nos muros para reforçar a segurança. A gente sabe que não impede, mas esperamos que dificulte — explicou o morador.

Perto dali, na esquina da Rua Pereira Nunes com a Rua dos Artistas, quatro portões de alumínio foram furtados de estabelecimentos vizinhos. O primeiro deles, uma barbearia, teve o portão da frente levado há oito meses. À sua esquerda, uma garagem também foi vítima de furto há cerca de um mês, segundo moradores da região. À sua direita, uma loja e um prédio residencial também tiveram o portão de alumínio arrancado na última semana, ainda de acordo com os moradores.

Salão e outros três estabelecimentos ao lado tiveram os portões de alumínio furtados Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo

— Isso é produto da insegurança do Rio de Janeiro. Na rua, temos segurança particular durante o dia, mas não funciona de madrugada, então eles atuam nesse horário. Aqui é normal, até sinal de trânsito estão levando — relata Hugo Fonseca, de 85 anos, morador há 10 anos da vizinhança. — Furtaram até as vigas da Perimetral… Furtar aqui é fácil.

Os funcionários da barbearia informaram que o furto não foi registrado em nenhuma delegacia. Segundo eles, os casos de furtos só começaram a ganhar notoriedade quando um morador postou nas redes sociais o caso da garagem ao lado.

Salão foi o primeiro a ter o portão furtado na vizinhança Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo

O delegado Deoclécio ressalta a importância da realização do registro de ocorrência em qualquer situação de furto e alerta que apenas compartilhar as imagens nas redes sociais não é suficiente para tornar a ação policial mais efetiva.

— A pessoa que teve a casa furtada precisa realizar o registro para que a polícia tome conhecimento do ocorrido. Sem isso, não conseguimos fazer o nosso trabalho. As pessoas não entendem a importância de registrar a ocorrência, acham que postar as imagens é mais efetivo porque chama mais atenção — destaca.

Segundo o delegado, algumas ações podem ser feitas pelos moradores para tentar minimizar a ação desses furtadores, como o uso de cadeados nos portões, substituição do alumínio por ferro (material mais pesado e de menor valor comercial), e a instalação de câmeras de seguranças e serpentinas.

— Não vai resolver, é claro, mas pode dificultar a ação dessas pessoas. Eles podem resolver tentar realizar o furto em outro endereço por achar que ali o trabalho será maior — finaliza o delegado.

Jaime Miranda, presidente da Associação Empresarial e de Moradores da Grande Tijuca, a Nova Tijuca, em entrevista ao RJ no AR da TV Record, ao se pronunciar sobre as Audiências de Custódia, afirma que este processo deve ser revisto, uma vez que o mesmo acusado é posto em liberdade repetidas vezes.

─ Se não é um problema de Segurança e/ou de Justiça, é um problema social. Se o Estado não resolve isso com a Secretaria de Segurança tem que resolver com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. O que não pode é a pessoa cometer esses delitos e no dia seguinte estar na rua. A impressão que temos é que a Polícia Militar e a Polícia Civil ficam “enxugando gelo”.

─ Eles prendem o bandido, levam para a Delegacia, há toda uma burocracia a ser cumprida com o registro da ocorrência para então encaminhar para a Audiência de Custódia. Enquanto todo esse processo é feito, o Agente Público de Segurança deixa de estar nas ruas atuando de forma mais efetiva.

─ E muitas vezes o agente ainda fica resolvendo questões burocráticas na Delegacia referente à Audiência de Custódia enquanto o meliante já voltou para as ruas. Logo, a Secretaria de Assistência Social tem que ser envolvida. É sabido que a grande maioria desses infratores é dependente crônico de drogas lícitas e ilícitas. Então no dia seguinte, já estando em liberdade e em decorrência da abstinência, ele vai voltar a cometer os mesmos furtos.

Jaime Miranda continua e destaca outro ponto, ao seu ver, de extrema importância: ─ Outro ponto que deve ser visto é a questão do receptador, quem compra esse material furtado. Isso é fundamental. Porque se o infrator tiver dificuldade para vender esse material, provavelmente ele não irá furtar mais.