Alzirão: ainda sem festa garantida durante a Copa – Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Organizadores da tradicional festa de rua lutam por patrocínio de R$ 500 mil

Por Gilberto Porcidonio e Selma Schmidt para Jornal O Globo

Vai ter, sim, festa da Copa do Mundo na Tijuca — só que o tamanho dela ainda não foi definido. Os organizadores do Alzirão, tradicional ponto do bairro que, em edições passadas do Mundial, reuniu até 300 mil torcedores em dias de jogos do Brasil, garantem que o evento está mantido. Como sairá do papel, no entanto, continua sendo uma incógnita. A equipe de produção corre em busca de R$ 500 mil para montar um palco e um telão, entre outros equipamentos, na esquina das ruas Alzira Brandão e Conde de Bonfim. Por enquanto, não há bandeirinhas ou outros enfeites no local.

A equipe de produção do Alzirão espera conseguir esta semana o dinheiro necessário para a festa. O grupo entrou em contato com o prefeito Marcelo Crivella na segunda-feira, mas, até ontem, não sabia se o pedido de ajuda financeira foi aceito.

— Toda a pré-produção está pronta, conseguimos tintas para pintar o asfalto e um bandeirão. A prefeitura se prontificou a fornecer banheiros químicos e grades, mas precisamos de uma ajuda maior para termos uma festa bem organizada, segura, em cada dia de jogo do Brasil — disse o presidente do evento, Ricardo Ferreira.

Ciente do problema, o governador Luiz Fernando Pezão colocou o secretário estadual de cultura, Leandro Monteiro, à disposição dos organizadores do Alzirão. Mas, conforme divulgou a coluna de Marina Caruso, do Jornal, ele levou duas negativas da cervejaria que patrocinou o evento em outras Copas do Mundo. Mesmo assim, Monteiro garantiu que, quando a turma do Alzirão conseguir o dinheiro, aprovará a realização da festa de rua mais famosa da cidade “nem que seja em cima da hora”.

— O estado não pode, hoje, botar recurso algum em eventos porque se encontra em regime de recuperação fiscal. É algo proibido por lei. O que podemos fazer é agir, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Assim, apresentei aos organizadores as grandes empresas pagadoras de ICMS do Rio, como as de telefonia e bebidas. Elas podem aportar recursos no projeto, que está muito interessante — afirmou Leandro.

Região sofre com a violência

Além da transmissão dos jogos, o Alzirão teria apresentações musicais de artistas da Grande Tijuca, que inclui os bairros de Vila Isabel, Andaraí e Rio Comprido, e festas juninas.

— Seria uma intervenção cultural importantíssima para uma região que sofre com tantos problemas de violência — destacou Monteiro. — O Alzirão tem impacto positivo em diversos bairros, não só da Zona Norte. Atrai milhares de pessoas de toda a cidade. Tenho esperança de que apareça um patrocinador.

A correria por colaborações é frenética em outros locais da cidade, mas já tem gente comemorando a decoração concluída. A comunidade Tavares Bastos, no Catete, onde vivem cerca de 6 mil pessoas, botou a mão na massa e já está praticamente pronta para torcer pela seleção brasileira. A quadra de futebol de salão que fica no miolo da comunidade foi pintada de verde, amarelo, azul e branco, e bandeiras de diversos países compõem o cenário de festa.

— Conseguimos o dinheiro da tinta com equipes de TV e cinema que gravaram cenas aqui. E foram os próprios moradores que pintaram tudo — conta Cristiano de Oliveira Melo, o Kiko, presidente do Centro Comunitário Tavares Bastos.

O principal ponto de concentração nos dias de jogos do Brasil, segundo Kiko, não será a quadra esportiva, mas a Praça Ralha. Com a ajuda de uma ONG, o espaço começou a receber uma decoração digna de torcida confiante na conquista do hexacampeonato. Muros ganharam desenhos, como o de uma bandeira do Brasil na qual o lema “Ordem e Progresso” foi substituído por “Fé nas cria (sic).”

A animação também é retratada com frases como “Meu coração é o Brasil”. E, em homenagem à Rússia, não faltam reproduções de matrioskas, as típicas bonecas do país-sede da Copa, devidamente coloridas de verde, amarelo, azul e branco.

— Nossa intenção é colocar um telão na praça, onde a comunidade deverá se reunir em peso para assistir aos jogos do Brasil — adiantou Kiko.