Público de todas as idades comparecem ao Alzirão, na Tijuca, para a estreia do Brasil na Copa, contra a Suíça – Custódio Coimbra / Agência O Globo
Público chegava ao tradicional ponto de transmissão da Tijuca antes dos ajustes finais
Por Leonardo Ribeiro para O Globo
Na estreia do Brasil na Copa do Mundo 2018, a festa na Rua Alzira Brandão, o Alzirão, finalmente virou realidade. Mesmo que alguns ajustes ainda fossem necessários pela organização momentos antes da bola entrar em campo. Faltando duas horas para o jogo, o telão de LED ainda não estava hasteado, a passagem de som não tinha sido feita e barreiras começavam a ser adicionadas pela segurança. Mas para o público que começava a chegar isso era o de menos. O importante era não faltar este tradicional espaço para torcer pela seleção.
– A gente estava na expectativa pela festa, porque é muito legal, anima todo mundo, vem gente de fora… – diz Mariana Freitas, que foi com o marido e a filha Giovanna, de um ano, que curtia a bagunça na rua: – Ela adora um barulho. Acho que já está no clima da Copa.
Quem também estava pronta para torcer para o Brasil era a Vovó do Alzirão, apelido de Dona Maria de Lourdes, de 76 anos. Com um vestido verde e amarelo, feito especialmente para o evento, arquinho na cabeça, e até as unhas pintadas com as cores da bandeira, ela não arreda o pé da região em época de Copa.
– Eu sou é pé quente. Toda Copa estou aqui e a organização até me liga para participar da festa – diz a Vovó, que tem o seu palpite para o resultado: – 1x0 para o Brasil com gol de “Neymaaaaar”.
Francisco Leão, o Lion, de 65 anos, faz aquecimento para a partida com embaixadinhas, chamando a atenção do público – Custódio Coimbra / Agência O Globo
Lion, nome artístico de Francisco Leão, de 65 anos, também aposta no camisa dez da seleção para fazer um gol, no placa que acredita ficar no 2x1 para o Brasil.
– Não vai ser moleza o jogo, mas vamos ganhar. E eu sou Brasil ganhando ou perdendo – diz o artista enquanto bate embaixadinhas. É com a bola nos pés que ele garante uma graninha. Como chama a atenção pela habilidade, acaba virando um outdoor ambulante: – A embaixadinha serve também como homenagem para a seleção. Mas também é meu sustento. Já viu alguém com 65 anos ganhar dinheiro jogando bola? Vai, Brasil.
E se na Rússia a seleção entrava em campo para o aquecimento, do lado de cá Padre Omar foi o responsável para esquentar a plateia. Além de cantar, o paroco fez uma oração (“pelo Brasil e os nossos atletas”, disse). Fiéis acompanharam:
– Também orei para pedir paz, para que o Brasil comece bem e proteja nossos meninos – diz a cabeleireira Heloísa de Almeida, de 61 anos, que aproveitou para acompanhar os gritos da multidão quando Neymar apareceu na tela.
Os gritos do estádio de “o campeão voltou” após o primeiro gol de Phillipe Coutinho foram replicados pelos telespectadores do Alzirão.
– E o placar vai aumentar. Vai ser 3x0 para o Brasil. Não tem como assistir jogo em outro lugar. A energia aqui é surreal – disse o estudante Daniel de Lucas.
A expectativa de público é de dez mil pessoas. Ricardo Ferreira, presidente do Alzirão, ficou satisfeito por tirar a festa do papel.
– Foi muito difícil fazer tudo isso acontecer, considerando a situação do Brasil, e do estado do Rio. E só temos a agradecer aos que ajudaram. Essa é uma festa popular, de alegria total – diz.
O secretário estadual de cultura, Leandro Monteiro, agradeceu ao público pela presença.
– Queria parabenizar a população da Tijuca por estar todo mundo aqui curtindo. Vai ter Alzirão e vamos ganhar a Copa.
Após o empate
O gol de empate suíço deixou a torcida no Alzirão muda. Mas por pouco tempo. Logo começaram os gritos para xingar o árbitro.
– Esperava 2x0 para o Brasil, mas o juiz apitou mal, não deu pênalti… Os dois times estavam equilibrados e é só o primeiro jogo. Mas isso não atrapalha a festa.
A Vovó do Alzirão também não se incomodou com o resultado. O samba no pé era o mesmo que o pré-jogo.
– Pelo menos a seleção não perdeu. Hoje eu fico aqui até acabar e próximo jogo estou aqui de novo – riu a Vovó, que vai curtir o show do grupo de pagode Bom Gosto.
Benefício para a Grande Tijuca
Para Jaime Miranda, presidente da Associação Comercial da Grande Tijuca, o Alzirão é fundamental para o comércio da região, além de ser uma tradição do local, já que são 40 anos, desde 1978, passando por 10 copas do mundo, alguns jogos chegaram a ter 45 mil pessoas, somando um total de 300 mil pessoas durante toda a Copa do Mundo. Para ele, em questão de segurança. “Se o comando do 6ºBPM, a 19ª DP, a Guarda Municipal e a SEOP tiverem o efetivo necessário, com certeza farão um ótimo trabalho de prevenção, durante os jogos, e o sucesso do evento, ordeiro e seguro, tem tudo para acontecer.”
O evento também influencia na autoestima do tijucano, que há muito sofre com a falta de segurança.
“São 45 mil pessoas reunidas para assistir um jogo, um número muito expressivo. Realizar um evento desse, com ordem e segurança, sinaliza que a Tijuca pode melhorar, e muito, nesse quesito. Mostra também que a Tijuca pode, sim, realizar um evento de grande porte, se forem oferecidas as condições necessárias” Afirma Jaime.