Iniciativas de economia de energia mostram preocupação com o futuro
Fonte por Maurício Peixoto para Jornal O Globo
“Se não fosse o teto solar e os mecanismos de reúso de água, não sei se estaríamos ainda em funcionamento”. A frase é de Roberto Santos, diretor da Associação Beneficente Amar, em Vila Isabel, que, assim como a maioria das ONGs, tem passado por dificuldades financeiras para se manter. Após a instalação de placas fotovoltaicas no teto do abrigo, no ano passado, fruto de uma parceria com o movimento Engenheiro Sem Fronteiras, a conta de luz sofreu uma redução drástica. Esse é só um exemplo de uma série de ações sustentáveis que vêm modificando o cotidiano de empresas e instituições na região, e que se tornaram imprescindíveis para o seu futuro.
— Havia meses em que a conta dava R$ 1.500. Hoje pagamos cerca de R$ 70. Foi um grande alívio. O custo desse teto é de R$ 35 mil, inviável para nós. Ainda bem que conseguimos essa parceria — comemora Santos.
Também em parceria com o Engenheiro Sem Fronteiras, foram instaladas uma tubulação que capta água da chuva, há quatro meses; e torneiras com temporizadores, há dois.
— A conta de água oscilava entre R$ 2.700 e R$ 4 mil. Hoje pagamos R$ 900. Essa água da chuva usamos para lavar o pátio e o chão do local. Também conversamos com as crianças para elas evitarem o desperdício quando estão no banho — revela Santos, ressaltando — Só estamos vivos por causa dessas ações, sem dúvida. Além de ser bom para nós, estamos ajudando o meio ambiente e a sociedade, evitando o desperdício de luz e de água.
Em frente ao Estádio Mário Filho, com entrada pela Avenida Paula e Sousa, funciona o Arena Maracanã Hostel, um local que, antes mesmo de ser fundado, já se enquadrava num projeto sustentável, segundo o dono, Célio Castro. A ideia era fazer dali um espaço com o máximo de “viés verde” possível, garante ele. Entre as ações por lá realizadas estão o reúso de água da piscina, da máquina de lavar e do ar-condicionado para regagem das plantas e lavagem local. Quartos em contêineres reutilizados e com móveis de compensado, coleta seletiva, lâmpadas de LED e cartões que funcionam como chave geral do apartamento (que só liberam a energia quando estiverem no local indicado) também são sistemas adotados pelo hostel.
— A iniciativa vai além do reaproveitamento da água, das questões econômicas. Trata-se de responsabilidade social — decreta Castro.
A menina dos olhos é o aquecedor solar, uma placa que gera água térmica para os chuveiros, instalado após a construção do albergue.
— O chuveiro elétrico e o ar condicionado são os grandes vilões da conta de luz. Temos 15 quartos. Ou seja, 15 chuveiros elétricos a menos. Foi um grande alívio. A conta diminuiu 30% — comemora.
Castro diz que pretende, até o ano que vem, instalar tetos solares para a produção de energia fotovoltaica, e que só não instalou até agora por ser muito caro.
— São poucas informações a respeito de políticas públicas e iniciativas oficiais de sustentabilidade e pouco incentivo das autoridades. Um teto fotovoltaico desses é importado, com taxas altíssimas. Deveriam existir políticas mais comprometidas de incentivo a projetos e iniciativas do gênero.
A Meimei Escola Montessoriana, em Vila Isabel, é outra que abraçou a questão verde. Desde pequenos os alunos aprendem a importância de cuidar do meio ambiente, têm noções de reciclagem e da importância da responsabilidade social. Entre as ações estão a criação de uma horta vertical. O adubo é colocado em tubos de PVC, sustentado por móveis de compensado. Além disso, nas aulas de robótica os alunos reutilizam diversos materiais reaproveitados.
— Primeiramente, a cada começo de ano recebemos doações de todo tipo de material eletrônico que as pessoas costumam ter em casa. Fazemos a desmontagem desse material todo para elas entenderem como é o funcionamento. Depois, tiramos todas as peças que possam ser recicladas e separamos, entre fios, placas etc, as que podem ser reutilizadas — diz o professor Peter Agostini.
Entre os aparatos confeccionados por alunos estão uma luminária, feita por um grupo de estudantes de 6 a 11 anos. Para elaborar a peça, eles utilizaram fios de liquidificador, interruptor, base com placas-mães de computador e de memória RAM e folhas de monitores antigos.
— A única coisa que tivemos que comprar foi um bocal para a lâmpada — explica Agostini.
Condomínio e posto em sintonia
Na esquinas das ruas Professor Manoel de Abreu e Felipe Camarão, em Vila Isabel, funciona há quatro anos, graças a uma parceria entre um posto de gasolina e o Bistrô À Propósito, um projeto que visa à economia de água. Na época, os dois estabelecimentos tinham o mesmo dono. Há dois anos, os proprietários do posto mudaram, mas a ação continua.
A iniciativa consiste em reaproveitar a água usada no lava a jato do posto: a água suja escorre por uma canaleta e vai para um reservatório. Uma bomba faz o tratamento e joga em uma cisterna. Essa água, então, é reaproveitada no bistrô apenas para a lavagem do chão e do banheiro. No posto, ela é usada nas torneiras, ao lado dos tanques de combustível.
— O projeto custou cerca de R$ 60 mil. Economizamos de 30% a 40% na nossa conta de água. O valor costumava ser R$ 3 mil e foi reduzido para R$ 1.200. Com certeza, esse nosso investimento já foi pago pela economia do próprio consumo — diz Alan Almeida.
No condomínio Gold River, na Rua Professor Gabizo, no Maracanã, o síndico Paulo Splitz decidiu, em 2010, reaproveitar a água potável da cisterna e da caixa d’água para os processos de lavagem e desinfecção semestrais dos contêineres.
— Antes da lavagem da cisterna, que tem uma capacidade de armazenamento de 32 mil litros, os funcionários bombeiam a água contida para a caixa superior, com capacidade de 40 mil litros. E antes da lavagem da caixa, a água retorna para a cisterna por meio de tubulação instalada no dreno de esgoto. Assim, o desperdício de cerca de 30 mil litros de água não acontece mais — explica o síndico.